A Crise, longe de nascer em 2005, foi gerada por vários anos, resultado da confluência de muitos fatores. Os episódios mais recentes foram o coroamento dos desencontros do PT com seus princípios, história e responsabilidades, tais como:

– As tendências deixaram de formular idéias e construir novas práticas políticas. São hoje condomínios de poder;
– Afastamento dos dirigentes do PT de suas bases e dos movimentos sociais;
– Perda de referências e alianças políticas não-programáticas;
– Enfraquecimento dos mecanismos democráticos de participação e decisão;
– Predominância de uma visão eleitoralista e de mera disputa de poder;
– Afrouxamento dos critérios de financiamento partidário e eleitoral;
– Burocratização de quadros dirigentes.

Está claro que esse conjunto de elementos tomou o partido do dia para a noite, nem ocorreu sem a omissão de muitos. Embora a principal responsabilidade por esse processo seja do grupo hegemônico do partido, todos que desempenharam papel de relevo no PT não podem se eximir de sua parcela de culpa.
O III Congresso é uma oportunidade rara de pensarmos o Partido, oxigenando o debate fora das preocupações rotineiras da política. Para isso, é preciso resgatar o caráter do PT, responsável por incontáveis conquistas sociais e democráticas em nosso país. A questão agora é dar conta de corrigir os rumos para que o partido seja de fato transformador, de esquerda, qualificando o que é ser esquerda neste século. O Brasil é vergonhosamente desigual. Nossa democracia é cambeta; nossa república, frágil. Sem projeto de nação, é impossível reivindicar-se de esquerda e responsável pela construção de um país justo. Assim, algumas medidas são basilares:
Aprofundamento dos vínculos do PT com os movimentos sociais;
Autonomia nas relações partido/governo;
Renovação da direção, com a incorporação dos movimentos sociais, intelectuais e militantes com representação social;
Revisão da profissionalização de dirigentes, com alternância nas direções;
Limitação de mandatos consecutivos nas instâncias decisórias do PT;
Limitação de mandatos parlamentares consecutivos para petistas;
Redução dos aparatos de mandatos em favor das estruturas coletivas de assessoria;
Estabelecimento de diretrizes que coíbam filiações em massa, recuperando a qualidade das adesões ao PT;
Investimento pesado na comunicação interna e interativa;
Prioridade para a formação política;
Repúdio a toda forma de corrupção e punição rigorosa dos envolvidos com atos de corrupção;
Instituição do Código de Ética do PT;
Divulgação pela Comissão de Ética dos processos analisados e das decisões adotadas;
Adoção de instrumentos de controle do Partido pelos filiados (OP, publicação de prestação detalhada de contas, relatórios de decisões das instâncias partidárias etc.);
Revisão do financiamento partidário, com o predomínio da auto-sustentação via contribuição obrigatória dos filiados;
É preciso chegar a um acordo quanto à nossa concepção de partido, com a superação da contradição entre partido de massas e partido de quadros.
Construção de um projeto para as grandes cidades, que enfrente seus dramáticos problemas;
Institucionalização de mecanismos como consultas e referendos entre os filiados;

Para além da simplicidade do que aqui foi resumido, nutrimos a esperança de que os desejos e os sonhos voltem a animar o pensamento do partido, transubstanciando-se de seu estado “utópico” para presidir a prática política do PT.

A íntegra deste texto com a lista completa de signatários está disponível nos sites www.vereadorcarlao.com.br e www.arnaldogodoy.com.br. Contatos podem ser feitos pelos e-mails carlaopereira@terra.com.br e arnaldogodoy@cmbh.mg.org.br.
Assinam:

1.Ana Paschoal (vereadora BH)
2.Arnaldo Godoy (vereador BH)
3.Sílvio de Sá (Secretário Estadual de Juventude MG)
4.Vilmar Oliveira (Secretário Estadual de Cultura MG)
5.Ilca Moreira Morais (Executiva Municipal BH)
6.Paulo Barcala (BH)
7.Célio Cruz (BH)
8.Ângela Mourão (BH)
9.Ivani Dutra (BH)
10.Mônica Profeta (BH)
11.Maria da Conceição Gomes – Nenen (BH)
12.Aparecida Anjo Delair
13.Rafael Cruz de Andrade
14.Roberto Raimundo

*Artigo enviado em 06 de março de 2007