Mulheres são maioria no ensino superior, mas diversas desigualdades se mantêm dentro da universidade

Ano 4 – nº 344 – 24 de agosto de 2016

Gênero, renda e raça na universidade brasileira

Relatório da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) atualiza o mapeamento da vida social, econômica e cultural dos estudantes de graduação das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) brasileiras para 2014.

O relatório mostra que as mulheres são maioria no ensino superior, mas diversas desigualdades se mantêm dentro da universidade, tais como as desigualdades nas áreas de conhecimentos, como mostra tabela abaixo. A pesquisa aponta também que: i) as graduandas provêm de famílias com renda familiar per capita média (R$ 835,10) inferior à dos indivíduos do sexo masculino (R$ 1.007,19); ii) os homens, de modo geral, possuem maior domínio no uso dos computadores; iii) homens são maioria entre estudantes que se envolvem com algum tipo de movimento (artístico, cultural, político etc); iv) homens são a maioria dos beneficiários dos programas de mobilidade internacional. Assim, a despeito da maior inserção das mulheres no ensino superior, ainda restam inúmeras desigualdades para serem enfrentadas em prol de relações de gênero mais igualitárias.

Fonte: Andifes, 2016

Quanto à raça, em 2003, autodeclarados (as) brancos (as) somavam 59,4% da população dessas instituições, mas em 2010 esse índice caiu para 53,93% e em 2014/5 reduziu para 45,67%. Já autodeclarados (as) pretos (as) têm crescido em participação nas Ifes de 5,9% (2003) para 8,72% (2010) e 9,82% (2014/5). Pardos (as), na mesma trajetória, foram de 28,3% para 32,08 e em 2014/5 para 37,75%.

Quanto à renda, 66,19% dos discentes das Ifes vivem com renda per capita média familiar de até 1,5 salário mínimo (sendo que 31,97% vivem com até 0,5 salário mínimo, e 21,96% vivem com renda entre 0,5 e 1 salário mínimo). Em outras palavras, dois de cada três estudantes encaixam-se no perfil vulnerável, um valor até 50% maior do que aquele registrado na pesquisa feita em 2010. Assim, é falso o mito de que as Ifes são redutos da elite brasileira, argumento utilizado para justificar o fim da gratuidade do ensino.

Aponta-se que a democratização da universidade se deve à Lei Federal nº 12.711, de 2012 (lei de cotas), ao Sistema Enem Sisu que permitiu maior mobilidade territorial e às políticas de valorização real do salário mínimo, crédito, emprego e renda (que infelizmente se encontram em risco). Ainda, aponta-se que o crescimento do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) – que apoia a inclusão de estudantes em situação de vulnerabilidade social – permitiu que ingressantes vulneráveis permanecessem vinculados às Ifes, mas o PNAES precisa ser transformado em uma Política Nacional de Assistência Estudantil.

O relatório conclui que nunca a universidade refletiu tanto a composição social da população brasileira e que o perfil discente das Ifes hoje requer assistência estudantil.

Para ler mais:

IV Pesquisa do perfil socioeconômico e cultural dos estudantes de graduação das Instituições Federais de Ensino Superior Brasileiras
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Gênero nas universidades federais: uma análise do perfil de estudantes por sexo
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