Ano 1 – nº 10 – Dezembro 2016

Golpe de Estado e a grande imprensa

Os três maiores impressos de circulação nacional, O Estado de S.Paulo, O Globo e Folha de S.Paulo, seguiram até o momento unidos na defesa do ajuste fiscal, da extinção da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e do projeto de privatizações. O Estadão manteve em seus editoriais o discurso do ódio contra o PT, ao passo que a Folha de S.Paulo abriu eventual espaço para o contraponto em relação aos abusos do Judiciário e ao resultado da perícia do Senado a respeito das “pedaladas fiscais”, quando foi constatado que não houve ilegalidade. O Globo abertamente publicou diversas matérias favoráveis ao governo interino.

Logo após o afastamento provisório, os editoriais dos grandes jornais não expressaram grande expectativa em relação ao governo golpista. A grande imprensa destacou as polêmicas em relação à composição ministerial: a nomeação de sete ministros que eram alvos de investigação na Operação Lava Jato e a ausência de diversidade, particularmente negros e mulheres. Além disso, também foram abordadas repercussões negativas da extinção do Ministério da Cultura e outros da área social, bem como a volta da CPMF. Foram ainda noticiados possíveis retrocessos na saúde, em direitos previdenciários, no programa Bolsa Família e a proposta de congelamento dos salários de servidores públicos com o objetivo de cortar gastos.

Entre os principais assuntos que ganharam manchetes brasileiras logo após o início da interinidade de Michel Temer estão a queda de dois ministros após o vazamento de conversas gravadas de forma oculta em relação à Operação Lava Jato (Romero Jucá e Fabiano Silveira); a nomeação da secretária de Políticas para Mulheres, Fátima Pelaes, fundamentalista religiosa, com posições contrárias às lutas feministas históricas e envolvida em denúncias de corrupção; o encontro do ministro da Educação, Mendonça Filho, com o ator Alexandre Frota, amplamente ridicularizado por internautas; a afirmação do procurador geral da República, Rodrigo Janot, de que o ministro do Turismo recebeu recursos desviados da Petrobras; e os recuos do governo ao recriar o Ministério da Cultura e ao afirmar que iria agir contra a criação de cargos aprovada pela Câmara e o aumento do Judiciário, que ele mesmo apoiara dias antes.

As medidas econômicas anunciadas em maio foram amplamente apoiadas pelos principais veículos da grande imprensa brasileira em seus editoriais e constituíram a primeira pauta positiva sobre o governo interino. Entre elas, a intenção de adiantar a devolução pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) dos empréstimos feitos ao Tesouro, priorizar a reforma da Previdência Social e enviar ao Congresso Nacional uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que estabeleça um teto para o crescimento dos gastos públicos. E também a nova meta fiscal de até R$ 170,496 bilhões para o governo central.

Porém, dias depois, os mesmos veículos criticaram a aprovação, pela Câmara Federal, da criação de catorze mil cargos de livre provimento e a concessão de aumento salarial ao funcionalismo público, a princípio com apoio do governo, com impacto de ao menos R$ 58 bilhões até 2019.

A grande imprensa testou os limites de manipulação dos leitores e aparentemente percebeu que não há teto, pois expôs posicionamentos contraditórios em relação às medidas do governo golpista. O jornal O Estado de S.Paulo, por exemplo, publicou texto emblemático no qual tentou justificar a ampliação de gastos e criação de cargos (25/5): “As dificuldades nas quais Michel Temer tem tropeçado nos primeiros dias do exercício da Presidência têm sido provocadas, em alguma medida, pela enorme pressão que a conjuntura excepcional exerce sobre ele. Não se trata de nada mais do que a lógica perversa de um sistema político patrimonialista, acomodado numa estrutura partidária que conspira contra a legitimidade genuína da representação popular. A isso se acresce um sistema legal que faz as despesas públicas crescerem em ritmo mais acelerado que o crescimento da economia nacional”.

Em julho, o caráter ilegal da prisão do ex-ministro Paulo Bernardo foi minimizado pela grande imprensa e não ganhou destaque nos títulos e manchetes dos jornais, mesmo após sua liberação. Com exceção da Folha de S.Paulo, que publicou o editorial “Critérios Supremos” (4/7), no qual afirma: “Dois graves problemas da Justiça brasileira se mostraram por inteiro no episódio do encarceramento e posterior soltura do petista Paulo Bernardo. De um lado, o abuso das prisões provisórias, decretadas antes de haver condenação; de outro, a falta de controle sobre as canetadas dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que não raro se valem dessa circunstância para decidir sabe-se lá com base em quais critérios.”

Após aprovação do impeachment no Senado, grandes grupos de mídia nacionais expressaram em seus editoriais, porém, com certa desconfiança, a expectativa de que o governo Temer possa de fato levar a cabo as propostas com as quais havia se comprometido no início da interinidade.

Ao mesmo tempo, a mídia tradicional ocultou recorrentemente as manifestações contrárias ao governo golpista, o que pode ser observado facilmente em três ocasiões. Em suas edições de 2/9, a Folha e o Estadão esconderam as manifestações contra a aprovação do impeachment e apoiaram a violenta ação da polícia em seus editoriais. Ambos os jornais deram mais destaque aos protestos contra Nicolas Maduro, na Venezuela, aos quais O Estado de S.Paulo dedicou chamada de capa. A Folha noticiou o caso da Venezuela na primeira página do caderno Mundo e colocou o ato de São Paulo na última página do caderno Poder. Já o título “Fascistas à solta” anuncia o teor do editorial que clama mais repressão policial contra os protestos. Na mesma linha vai o editorial do Estadão, intitulado “A baderna como legado”, que classifica as manifestações contra o novo governo como revanchistas.

O mesmo se observou com a ausência de cobertura da grande imprensa a respeito das ocupações de escolas e universidades, principais frentes de resistência às medidas de Temer que atacam direitos da população, particularmente dos estudantes – a Medida Provisória (MP) 746/2016, que altera o ensino médio; da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/2016; e o Projeto de Lei do Senado (PLS) 193/2016, que tenta incluir o programa Escola Sem Partido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).

Evento digno de um Estado de exceção foi protagonizado pela Polícia Militar de São Paulo no dia 4/11, quando policiais invadiram a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema, no interior de São Paulo, sem mandado e aos tiros. Como era esperado, a grande mídia não noticiou o fato de imediato e, quando o fez, tratou de escondê-lo nos rodapés dos portais de notícias e longe das manchetes. A divulgação, muitas horas depois, ocorreu apenas porque a repercussão nas redes sociais tornou o silêncio dos grandes veículos insustentável.

Durante todo o ano os editoriais do jornal O Estado de São Paulo se dedicaram a atacar a imagem do ex-presidente Lula e a disseminar a ideia de que a aprovação do impeachment significou também o fim do Partido dos Trabalhadores. Também foram publicados textos que corroboram esta narrativa após a divulgação dos resultados das eleições municipais, apontados por aquele jornal como o aval eleitoral para o golpe.

Redes sociais ampliam sua influência
As redes sociais online, mais do que nunca, tiveram um papel importantíssimo na vida de brasileiros e brasileiras em 2016. Eventos marcantes encontraram nas redes sociais online o combustível necessário para se firmarem como pautas nacionais e influenciar a opinião pública.

Em 4/3, enquanto páginas e usuários de direita comemoravam a condução coercitiva do ex-presidente Lula, os ligados ao Partido dos Trabalhadores e admiradores de Lula se mobilizavam para fazer a “escolta” do ex-presidente. “Lula” foi o termo mais comentado no Twitter mundial durante sua condução coercitiva. Por lá, surgiram depoimentos que ajudaram a elucidar os fatos e orientar militantes que buscavam agir em defesa de Lula. Relatos apontaram que a mobilização em prol do ex-presidente fez com que os responsáveis pela condução desistissem da ideia de levar Lula a Curitiba.

Manifestações contra e pró-impeachment
Uma série de manifestações foram registradas durante todo o ano. Enquanto as favoráveis ao impeachment receberam atendimento de megaevento, com cobertura de canais de TV aberta, convocações, comentaristas políticos em tempo real e até mesmo flashes durante a programação, as contrárias foram condenadas ao ostracismo pela grande imprensa brasileira.

Nesse cenário, a mídia alternativa e as redes sociais online tiveram um papel central na divulgação dos atos contra o impeachment. Canais como Mídia Ninja, Jornalistas Livres, Brasil 247, Viomundo, entre outros, ocuparam um vácuo deixado pela imprensa convencional. Foi a mídia alternativa a responsável por divulgar o iminente golpe de Estado que ameaçava o Brasil e que de fato se consumou.

A mídia alternativa ainda cumpriu um outro papel nesse cenário, que foi elucidar os usuários sobre o caráter do que surgia das manifestações em prol do impeachment: reacionários, apoiadores de regimes militares, homofóbicos, preconceituosos, machistas, intolerantes, entre outros.

Votação do impeachment na Câmara
Se o clima de decisão futebolística era forte nas ruas e avenidas brasileiras, nas redes sociais online o efeito dessa polarização foi elevado a níveis estratosféricos. Argumentos há muito já haviam sido deixados de lado, o que só reforçou o sentimento de disputa por disputa, relegando ao segundo plano questões ideológicas, de propostas ou debates pacíficos.

“Nem na Copa do Mudo houve essa quantidade de usuários, em língua portuguesa, tuitando num mesmo dia”, escreveu Fábio Malini, professor de Cibercultura e Política da Universidade Federal do Espírito Santo, em seu blog. No dia 17/4 foram coletados 3,5 milhões de tweets produzidos por 470 mil usuários. E, diferente do que se possa imaginar, os principais alvos nesse dia foram os deputados e deputadas federais que produziram um show de horrores televisionado para todo o Brasil. Um fato interessante merece destaque: a divulgação dos contatos de deputados e deputadas indecisos. Assim, ambos os lados da disputa convocavam seus seguidores a reforçar a cobrança sobre os parlamentares.

Afastamento e cassação de Eduardo Cunha
Após o afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara, usuários e movimentos que haviam atuado em favor do impeachment e, simultaneamente, em apoio ao ex-deputado, passaram a utilizar o fato como uma amostra da “imparcialidade” da justiça brasileira.

Por outro lado, movimentos progressistas e de esquerda agiram com rapidez para atuar em duas frentes: ressaltar os vícios de um processo de impeachment conduzido por um criminoso e lembrar o apoio dedicado por diversos movimentos de direita e de apoiadores do impeachment a Cunha. No fim do processo, o que se observou nas redes foi um Eduardo Cunha abandonado, à deriva entre os clusters de direita e esquerda.

Eleições municipais
Durante as eleições municipais, o principal foco da direita e dos movimentos pró-impeachment nas redes foi atacar o Partido dos Trabalhadores e todos seus candidatos. Campanhas foram feitas e fomentadas para que eleitores e eleitoras divulgassem candidatos que estivessem “escondendo” as cores do partido ou até mesmo a estrela do PT. A ofensiva, de forma agressiva e ilegal, chegou a sofrer interferência até mesmo da Justiça.

Com o fim do primeiro turno das eleições e derrotas acachapantes que atingiram o partido, o enfoque partiu, dessa vez, para candidatos e candidatas de esquerda de todo o Brasil. O Psol, por exemplo, sentiu na pele os ataques de uma direita extremamente organizada e com objetivos claramente reacionários em cidades como Rio de Janeiro (RJ), Belém (PA) e Sorocaba (SP).

Ocupações contra o governo Temer
A pauta que atingiu maior repercussão graças às mídias alternativas presentes nas redes sociais online são as ocupações que ocorrem por todo o Brasil contra medidas do governo Temer. Foi nas redes sociais online e com a cobertura desses veículos que o tema ganhou o Brasil, já que o assunto é constantemente negligenciado pela grande imprensa.

A cobertura promovida por essas páginas, bem como a divulgação de reivindicações e ações promovidas pelos movimentos levaram o tema a ser defendido e encabeçado por mais e mais usuários. Assim, ao mesmo tempo que movimentos reacionários como o MBL se empenhavam em atacar as ocupações, os estudantes envolvidos e cada vez mais usuários puderam promover as ocupações e seus objetivos por meio das redes.
Crescimento da mídia alternativa

Páginas e usuários como Mídia NINJA e Jornalistas Livres, por exemplo, alcançaram importância inédita nas redes sociais online. O engajamento da página da Mídia NINJA foi comemorado pelos clusters progressistas das redes.

O alcance inédito dessas páginas pode ser observado nos mais variados grafos que capturaram momentos importantes da política nacional durante todo o ano de 2016.

Internacional
Antes da condução coercitiva de Luiz Inácio Lula da Silva, a imprensa internacional era exclusivamente pautada e influenciada pela grande mídia brasileira. Até então, os jornais europeus e estadunidenses diziam que um caso de corrupção gigantesco estava sendo trazido à tona e um governo corrupto e enfraquecido corria o risco de cair. O pronunciamento do ex-presidente Lula, pouco depois de ser liberado pela PF, teve um tom combativo que, em um primeiro momento, chegou a ser criticado. A mídia estrangeira afirmou que Lula estava abalado, fragilizado e desesperado. Depois, teve início um movimento de defesa da democracia, dentro e fora do Brasil, que, aos poucos, pressionou os jornais estrangeiros a se aprofundarem sobre a situação da política brasileira.

Logo após a condução coercitiva, o cenário ainda era muito desfavorável. No dia 31 de março, o Le Monde publicou um editorial recheado de críticas contundentes ao PT e à esquerda brasileira, afirmando que era um paradoxo falar em “golpe constitucional”. O título do editorial era “Isso não é um golpe”. Mas a mesma edição trazia uma reportagem em que se afirmava que só depois do impeachment os brasileiros dariam conta de que o processo contra Dilma foi encabeçado por Eduardo Cunha, que tem contas na Suíça, que ela foi julgada por uma comissão na qual a maioria dos parlamentares é acusada de corrupção e que o vice-presidente da República é acusado de corrupção. Só então o brasileiro perceberia que esse processo não traria mudança alguma.

A partir do início do processo de impeachment na Câmara, a mudança de entendimento da mídia internacional ficou mais evidente. Em abril, os jornais da Europa e dos Estados Unidos (EUA) afirmaram que o impeachment era frágil, ambíguo, duvidoso e questionável. No dia 12 de abril, o New York Times afirmou em uma reportagem que a penalidade para Dilma parecia desproporcional, uma vez que ela estava sendo julgada por muitos políticos que eram e são acusados ou investigados por enriquecimento ilícito.

A suspeição sobre o processo chegou à revista The Economist que, em março, pedira a saída de Dilma, mas, em 9 de abril, falava sobre a fragilidade do processo de impeachment e o quanto isso poderia custar caro ao país. Na mesma semana, o jornal inglês The Guardian soltou uma reportagem com o seguinte título, traduzido de forma livre: “O maquiavélico cotado para tomar o trono – mas o ‘golpe’ de Temer vai unir ou dividir o Brasil?” Parecia até que os britânicos já previam o que ficou escancarado na semana seguinte.

O discurso da presidenta Dilma Rousseff acusando Michel Temer de traição e de ser um dos chefes da conspiração ganhou destaque nos principais jornais do mundo, que chegaram a ironizar a declaração dada pelo vice-presidente, alegando que divulgou o discurso à nação por “acidente”. A repercussão dos acontecimentos naquela semana foi tão grande que até a Casa Branca se pronunciou sobre a situação no Brasil. Um porta-voz do governo estadunidense disse que o presidente Obama estava otimista com a capacidade do Brasil para lidar com desafios políticos e econômicos.

Em 17 de abril, a sessão de votação do impeachment fez com que a Câmara dos Deputados se tornasse motivo de chacota no mundo todo. Os jornais internacionais deram destaque às falas dos deputados. A revista The Economist listou e publicou cerca de 60 justificativas de votos. Assim como outros periódicos, o The Guardian criticou a homenagem de Jair Bolsonaro ao Coronel Ustra. Dias depois, o jornal inglês publicou editorial em que classificava o impeachment como um escândalo e uma tragédia.

Após o afastamento de Dilma, a primeira aparição de Temer junto ao seu grupo de ministros causou grande impacto na imprensa internacional, negativamente. Os franceses Le Monde e Libération definiram, respectivamente, como “a volta da velha elite brasileira ao poder” e “Um impeachment semelhante a um golpe”.

Além do governo interino, o mês de maio ainda teve enorme repercussão por causa das gravações de conversas feitas por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. O Le Monde observou: “Esse caso dá crédito à tese de ‘golpe de Estado’ denunciada pelo PT”. A conversa do ex-ministro Romero Jucá foi publicada em muitos dos jornais internacionais, com destaque para os trechos em que ele diz que era “necessário estancar a sangria”, que “o único jeito era mudar o governo” e “estabelecer um novo pacto”. O inglês The Guardian cravou na manchete: “Ministro do Brasil é afastado após gravação secreta revelar conspiração para derrubar presidente Dilma”. No jornal, foi publicada, por um grupo de vinte parlamentares britânicos, uma carta intitulada “A suspensão de Dilma Rousseff é um insulto à democracia no Brasil”.

Uma ação semelhante foi realizada por 28 senadores e deputados franceses, que publicaram um manifesto no jornal Le Monde, no dia 13 de julho, em que classificaram o processo como “uma baixa manobra parlamentar” e pediram que o presidente François Hollande não dialogasse ou reconhecesse o governo de Michel Temer. Doze dias depois, quarenta membros do Congresso dos EUA, do Partido Democrata, também redigiram um manifesto em que expressavam “profunda preocupação” com as ameaças à democracia no Brasil. Em 8 de agosto, Bernie Sanders foi mais contundente. O senador disse que estava “muito preocupado” com o processo de impeachment que se parecia muito com “um golpe de Estado”.

No final do mês de agosto, a votação sobre o impeachment no Senado fez com que a mídia internacional publicasse o que pensava sobre o processo. O New York Times fez um editorial com a seguinte manchete, “será uma vergonha se a história provar que Dilma tem razão”. O Washington Post afirmou que Temer é impopular e não está claro se ele será capaz de estabelecer as medidas impopulares que propõe. O diário Le Monde foi mais crítico no seu editorial, “o episódio do impeachment não passará para a posteridade como um episódio glorioso da jovem democracia brasileira”. Após relembrar o grampo da conversa telefônica de Jucá, a conclusão foi mais incisiva, “se não há um golpe de Estado, há ao menos enganação. E as verdadeiras vítimas dessa tragicomédia política são, infelizmente, os brasileiros”.

Enquanto a decisão dos senadores foi alvo de críticas, o depoimento de Dilma Rousseff diante do Senado foi bem recebido. As palavras da ex-guerrilheira, torturada e que viu a morte de perto foram repetidas em todos os jornais que também buscaram especialistas para analisar a mudança de governo.

O New York Times ouviu a professora de Ciências Políticas Amy Erika Smith, da Universidade Estadual de Iowa. Ela foi contundente, “essas acusações não atingem o nível do tipo de acusações que levariam a um impeachment”. Ela ainda afirmou que as elites políticas não infringiram a lei, nem subverteram a vontade popular. Eles exploraram a vontade popular e a Constituição para servir aos seus próprios interesses, ao invés dos interesses da democracia. O Libération falou com Frédéric Louault, professor de Ciência Política na Universidade Livre de Bruxelas, que afirmou: “esse governo se aproveita de um período de transição para promover reformas que jamais seriam aprovadas pelas urnas”.

Em setembro, ocorreu a abertura dos Jogos Paraolímpicos, na qual Temer foi intensamente vaiado. Além disso, no desfile de 7 de setembro ele se negou a desfilar em carro aberto, mais uma quebra de protocolo tentando fugir de protestos. Pressionado dentro do Brasil, Temer foi para a Assembleia da ONU buscar legitimidade. Durante o encontro, os jornais Le Monde e New York Times noticiaram a estranha e desajeitada tentativa de Michel Temer e José Serra de minimizar os protestos contra o governo. O nova-iorquino publicou trechos do discurso de Michel Temer na ONU. A manchete “Novo presidente do Brasil defende o impeachment de Dilma Rousseff” introduz o conteúdo do pronunciamento. Talvez o que mais chame atenção é a afirmação dele de que o impeachment é “um exemplo para todo o mundo”.

A mídia internacional esperava pelas eleições municipais para compreender qual era o sentimento dos brasileiros. Esses jornais concluíram que há um grande descontentamento dos brasileiros com a política. O alto número de votos nulos, brancos e de abstenções e justificativas foi o que baseou essa conclusão. Por outro lado, todos trataram as eleições municipais como uma disputa de forças que afetaria diretamente o processo eleitoral de 2018.

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