No primeiro ato das centrais sindicais em 2020, em defesa do emprego e da indústria, dirigentes atacaram o governo e o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, pelo apoio explícito a Jair Bolsonaro, que participaria de almoço na entidade nesta segunda-feira (3). “Tenho muito respeito por muitos diretores da Fiesp. Mas faz tempo que a Fiesp não é um sindicato patronal, é um aparelho político”, criticou o presidente da CUT, Sérgio Nobre, quase ao final do ato convocado para a Avenida Paulista. As centrais divulgaram um documento com propostas para a produção industrial (confira ao final do texto) e apontando para a atual “desimportância” do setor.

Participaram da atividade CGTB, CSB, CSP-Conlutas, CTB, CUT, Força Sindical, Intersindical, Nova Central e UGT, além da União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). Iniciada por volta de 9h30 e encerrado pouco antes do meio-dia, a manifestação começou com uma concentração sob o vão livre do Masp, com chuva forte. O trânsito só foi interrompido às 11h, quando sindicalistas e estudantes fizeram rápida caminhada até as proximidades da Fiesp. A Polícia Militar não permitiu a aproximação, e os manifestantes ficaram a 150 metros da entidade, do outro lado da Avenida Paulista, na esquina com a rua Itapeva, com três quarteirões bloqueados.

Créditos: Roberto Parizotti

Paredão de PMs

A agenda presidencial informava que Bolsonaro chegaria às 12h45, depois de atividades no Colégio Militar, para um almoço com centenas de empresários. O coordenador do Sindicato dos Químicos de São Paulo, Hélio Rodrigues, lembrou que o presidente da Fiesp, vindo da área têxtil – presidiu a associação brasileira do setor, a Abit, antes de se eleger, em 2004 – é um “sem-indústria”. “O Paulo Skaf não sabe o que é indústria, porque ele não tem indústria, ele não representa as indústrias.”

Destruição nacional

Sindicalistas fizeram menção ao fato de que o apoio explícito a Bolsonaro, cuja política não tem favorecido a atividade industrial, já causa reações contrárias na própria entidade comandada por Skaf. Para o secretário-geral da CSB, Álvaro Egea, parte dos empresários comete “suicídio” ao apoiar uma “política de destruição nacional”.

Segundo Sérgio Nobre, o ato de hoje representou “repúdio à presença de Bolsonaro neste estado, que é o que mais sofre com o desemprego”. “Não há governo mais anti-trabalhador, mais entreguista do que ele. Se o Brasil tivesse um presidente à altura classe trabalhadora, a Ford não teria fechado”, acrescentou, lembrando do fim das atividades da montadora em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, no ano passado. “Bolsonaro e Paulo Guedes (ministro da Economia) são os exterminadores do presente e do futuro.”

O presidente da Força, Miguel Torres, também criticou Skaf, que em artigo recente afirmou que o governo colocou o país no rumo certo. “Treze milhões de desempregados, subempregados, perda de direitos, terceirização, isso não é o caminho certo. A prometida retomada da economia fica cada vez mais para trás”, afirmou.

Tsunami

Penúltimo a discursar, o presidente da UNE, Iago Montalvão, centrou as críticas ao ministro da Educação, Abraham Weintraub, por sua “incompetência no gerenciamento” da pasta. “Vamos começar a derrota do Bolsonaro derrubando esse ministro”, disse Iago, destacando os vários problemas no recente Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Sem educação e ciência, não há desenvolvimento, não há indústria forte e não há emprego. O que estão fazendo com a educação neste país não tem precedentes na história.” Segundo ele, março terá atividades em defesa do setor, como no ano passado – uma manifestação já está marcada para o dia 18. “O tsunami vai voltar”, avisou.

Antes disso, no próximo dia 14, centrais e sindicatos farão protestos em agências da Previdência Social. Para o presidente da CTB, Adilson Araújo, o INSS não precisa de “militarização”, mas de concurso público e reestruturação, “para que o servidor não seja submetido a condições desumanas”. Ele também discursou pela unidade do setor progressista: “Que a esquerda possa fazer a lição de casa”.

O secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, disse que o governo levou o “caos” ao INSS e ao ensino. “Precisamos defender investimento público, que é o que de fato gera emprego no nosso país”, afirmou. Dirigente da CSP-Conlutas, Luiz Carlos Prates, o Mancha, lembrou da greve dos petroleiros, “defendendo a soberania nacional”.