Lula voltou a manifestar confiança na eleição de outubro próximo e qualificou a sua chapa com o ex-governador Geraldo Alckmin como a que “tem mais autoridade” para mudar o Brasil para melhor. Lula garantiu que as propostas traçadas até o momento por sua campanha serão cumpridas no futuro governo. Durante o lançamento do conjunto de propostas intitulado Diretrizes para o Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil, na terça-feira, dia 21, Lula destacou algumas das mudanças que, garante, são necessárias e possíveis:

– o fim do chamado orçamento secreto e a adoção de um mecanismo de construção de orçamento público transparente e com participação social. Segundo Lula, “não dá para reconstruir este país com orçamento secreto”;
– retomar o Bolsa Família. “O Bolsa Família não era um programa menor. Levava em conta a família, levava em conta a frequência das crianças na escola, levava em conta a vacinação das crianças, levava em conta o tratamento da mulher gestante. Era um programa que tinha responsabilidade social, não era apenas dar o dinheiro, era cuidar das pessoas”;
– abrir um diálogo com os 27 governadores eleitos como uma das primeiras ações de um futuro governo;
– construir um novo pacto federativo com União, estados e municípios.

Lula também criticou a proposta de uma CPI da Petrobrás, que classificou como “bravata” e voltou a afirmar que pretende fortalecer a estatal em seu futuro mandato. Na opinião dele, o objetivo do atual governo é “privatizar a empresa, se der tempo, ainda este ano, como fizeram, da forma mais vergonhosa possível, com o processo de privatização da Eletrobrás”, e a CPI seria uma tentativa de fomentar um ambiente que favoreça a venda.

Líder com folga nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente não poupou Bolsonaro, a quem chamou de “cidadão desequilibrado, do mal”. Após lembrar casos como a indiferença do atual presidente frente às milhares de mortes por Covid ou o passeio de moto em meio a tragédias como a produzida pelas chuvas no Nordeste, Lula arrancou risos da plateia ao comentar: “Ele é um caso que precisa ser estudado: de onde surgiu essa figura? De que planeta ele veio?”.

Sobre o documento que foi apresentado ao público, Lula comparou-o aos alicerces de uma casa. “A gente vai ter de construir a casa ao longo do tempo. Ouvindo as pessoas e executando a política”, disse, destacando a participação dos diferentes setores sociais na construção das Diretrizes.

As Diretrizes são a síntese de propostas de consenso formuladas pelas direções, fundações e equipes técnicas do sete partidos que compõem a frente “Vamos Juntos pelo Brasil” – PT, PSB, PCdoB, PV, PSol, Rede e Solidariedade. O documento está aberto à participação de todos que queiram encaminhar propostas para a plataforma interativa programajuntospelobrasil.com.br. As sugestões serão analisadas e muitas incorporadas ao projeto.

Aloizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo e coordenador do programa de governo, afirmou que as Diretrizes são um ponto de partida. “Este documento é um convite a todos aqueles que querem participar, debater e ajudar a reconstruir este país. O que as diretrizes programáticas asseguram? Os princípios fundamentais, as ideias-forças que permitiram este pacto histórico destes sete partidos. E esse pacto se deve em primeiro lugar pelo reconhecimento dessa tragédia histórica, por esse desmonte que nós estamos assistindo, mas também pela liderança inigualável do presidente Lula”, comentou.

Geraldo Alckmin, em sua fala, destacou o processo de escuta que tem marcado a construção do programa de governo até aqui. “Quero confessar que nestas últimas semanas, acompanhando o presidente Lula em vários estados, tivemos uma experiência muito positiva, porque não foi só ir aos estados e fazer um evento político, mas foi muito mais ouvir. Ir agregando valores. Não se faz um programa de governo democrático em motociatas ou passeios de jet sky”, afirmou, aproveitando para criticar Bolsonaro. “Este trabalho que hoje apresentamos foi feito por muitos e muitas, e será debatido por todos”.

Para a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, a adoção de uma plataforma aberta a contribuições “vai gerar uma grande mobilização e interação. E é assim que se faz um país”. Desde já, afirmou a presidenta, algumas diretrizes já estão consolidadas. “A primeira coisa que a gente tem que fazer é combater a fome e a miséria”.

Participaram da apresentação das Diretrizes e da plataforma os presidentes dos sete partidos e integrantes dos grupos que produziram as propostas. O encontro foi transmitido ao vivo pela internet.