“O Brasil não pode ficar isolado como esteve nesses últimos quatro anos”, diz o presidente eleito à comunidade internacional. Ele manteve encontros de alto nível com alguns dos principais líderes do mundo e prometeu proteger a Amazônia e os povos indígenas

 

Ainda nem assumiu o poder, e Luiz Inácio Lula da Silva mostrou que o Brasil está de volta ao palco dos grandes temas globais com uma visão progressista e trazendo esperanças. O presidente eleito chegou a Sharm El-Sheikh, no Egito, para a reunião da Cúpula do Clima das Nações Unidas, saudado como um sopro de renovação e retomando a liderança brasileira na agenda verde.

Diante de uma multidão reunida na COP27, Lula anunciou que vai reprimir fortemente o desmatamento e o garimpo ilegal na Amazônia, anunciou a retomada das relações do Brasil com as nações que financiam esforços de proteção florestal e sinalizou que o Brasil está disposto a sediar uma nova conferência em 2025.

“Não haverá segurança climática se a Amazônia não for protegida”, disse Lula, aplaudido de pé e saudado como um astro do rock. Ele declarou que todos os crimes na floresta, da extração ilegal de madeira à mineração, serão reprimidos “sem trégua” pelo novo governo que se inicia em 1º de janeiro de 2023.

O novo Brasil que surge aos olhos da comunidade internacional está na contramão do que o governo de Jair Bolsonaro estabeleceu nos últimos quatro anos. Sua administração estimulou  a depredação florestal e promoveu o desmatamento mais rápido da floresta tropical em décadas. Sob Bolsonaro, o crime organizado se fortaleceu na Amazônia. Agora, diz Lula, isso não será mais tolerado pelo Estado brasileiro.

Em um discurso histórico, Lula anunciou no Egito, que o Brasil está disposto a sediar a Conferência do Clima das Nações Unidas, em um dos estados da Amazônia Legal, em 2025. Ele exortou os líderes dos outros países a promoverem uma “nova governança global” e ampliar as relações multilaterais para combater a crise climática. “Acho importante que as pessoas que defendem a Amazônia conheçam a região e a realidade”, justificou.

Lula foi muito aplaudido. Ele fez uma defesa dos princípios humanistas na condução do planeta. Apesar de reconhecer a gravidade do momento, deixou uma mensagem de esperança aos outros chefes de Estado. E também pediu ações concretas dos países contra as mudanças no clima, lembrando das promessas não cumpridas pelas nações ricas e os acordos que seguem sem medidas concretas.

“São tempos difíceis. Mas foi nos tempos difíceis e de crise que a humanidade sempre encontrou forças para enfrentar e superar desafios”, disse. O novo presidente brasileiro enfatizou que o tema terá papel de destaque no seu próximo governo. “O planeta que a todo momento nos alerta de que precisamos uns dos outros para sobreviver. Que sozinhos estamos vulneráveis à tragédia climática”, discursou.

Lula lamentou que o mundo não esteja atento aos problemas sociais que estão se avolumando por conta da desigualdade crescente e os conflitos. “Ignoramos esses alertas. Gastamos trilhões de dólares em guerras que só trazem destruição e mortes, enquanto 900 milhões de pessoas em todo o mundo não têm o que comer”, advertiu o presidente eleito do Brasil.

Ele também cobrou uma posição mais aberta dos países ricos, inclusive com mais recursos financeiros para reverter o quadro de desigualdade em todo o mundo. “É preciso tornar disponíveis recursos para que os países em desenvolvimento, em especial os mais pobres, possam enfrentar as consequências de um problema criado em grande medida pelos países mais ricos, mas que atinge de maneira desproporcional os mais vulneráveis”, declarou. •