Por Matheus Tancredo Toledo

Foto: Ricardo Stuckert

As pesquisas mais recentes divulgadas pela Quaest e pela IPEC confirmam a tendência identificada por levantamentos anteriores: a popularidade de Lula passa por melhora que interrompeu a tendência de deterioração da avaliação do governo Lula entre o final de 2023 e início de 2024. Os números indicam que houve deslocamento relevante da opinião de segmentos chave da população, impulsionados por um arrefecimento da sensação de piora na economia. Portanto, os dados indicam que a economia segue sendo a balizadora da popularidade do governo.

Segundo a pesquisa Quaest, realizada entre os dias 5 e 8 de julho com duas mil entrevistas presenciais e margem de erro de 2 pontos percentuais (p.p.), a avaliação positiva (soma de ótimo e bom) passou de 33% para 36%, enquanto a negativa caiu de 3

3% para 30%. A aprovação (quando o entrevistado só possui duas opções, uma positiva e outra negativa) passou de 50% para 54%, enquanto a reprovação caiu de 47% para 43% – um retorno ao exato patamar de dezembro de 2023. Já o levantamento IPEC, feito entre os dias 4 a 8 de julho com duas mil entrevistas presenciais e margem de erro de 2 p.p., a avaliação positiva subiu de 33% para 37% e a negativa oscilou de 32% para 31% – a aprovação foi de 49% para 50% e a reprovação de 45% para 44%. 

Alguns segmentos merecem destaque. No caso da avaliação positiva/aprovação, aumento  principalmente na parcela mais pobre da população, com renda familiar mensal menor que 2 salários mínimos, de 37% para 43% segundo a IPEC e de 44% para 48% segundo a Quaest — a aprovação subiu de 62% para 69%, segundo o mesmo instituto. Entre as mulheres, houve aumento de 33% para 38% segundo IPEC, 35% para 37% segundo Quaest — na aprovação, subiu 6 p.p. desde fevereiro, chegando a 57%. Na avaliação negativa, houve queda entre evangélicos: a desaprovação caiu de 58% para 55% e de 59% para 52%, segundo IPEC e Quaest, respectivamente. Em relação ao Nordeste, as pesquisas divergem: IPEC aponta aumento de 43% pra 53% na avaliação positiva, enquanto Quaest traz uma manutenção em 48%. 

A pesquisa Quaest explorou também a percepção dos brasileiros e brasileiras sobre temas econômicos. Houve ligeira queda no número que aponta piora na economia, de 38% para 36%, enquanto os que apontam melhora oscilaram de 27% para 28%. Entre a parcela mais pobre, aumento de 4 p.p. na percepção de melhora (6 p.p. desde fevereiro) e queda de 4 p.p. na sensação de piora (8 p.p. desde fevereiro).

A percepção sobre aumento de preços caiu em menor intensidade em relação aos alimentos e em maior grau nos combustíveis: a primeira oscilou de 73% para 70% (não houve variação significativa entre os mais pobres), enquanto o número de que apontam que os preços estão iguais subiu de 13% para 16%. Em relação aos combustíveis, houve queda significativa na percepção de aumento, de 51% para 44% desde fevereiro. Em pergunta que mede a avaliação sobre o poder de compra dos brasileiros, 63% dizem que está menor (4 p.p. a menos que em maio), 21% apontam que houve aumento (2 p.p. a mais) e 14% que está igual (2 p.p. a mais). Desde fevereiro, diminuiu a percepção de queda do poder de compra em todas as faixas de renda (4 p.p. na renda mais baixa; 3 p.p. na renda de 2 a 5 salários mínimos; 8 p.p. a menos na renda maior que 5 salários mínimos), ainda que o índice se mantenha acima de 60% nas três. 

Olhando para os dados inflacionários, nota-se que o IPCA de itens alimentares com alta pressão sob o cotidiano dos brasileiros nos primeiros meses do ano se arrefeceu em maio e junho: o IPCA médio de alimentos no primeiro quadrimestre foi de 0,89% ao mês, enquanto em maio e junho caiu para 0,53% – itens como frutas apresentaram deflação, enquanto tubérculos/legumes deu sinais de desaceleração, indo de 6% ao mês para 4,14% na comparação média do primeiro quadrimestre com o último bimestre. Consequentemente, a sensação de aumento dos preços parou de subir e dá sinais de que pode diminuir. 

Gráfico

Questionados sobre as críticas de Lula ao presidente do Banco Central, 66% da população concorda com elas, e o número é majoritário inclusive entre eleitores de Bolsonaro no pleito de 2022. Ainda, discordam que as falas de Lula foram responsáveis pelo aumento do dólar. Neste sentido, é possível extrair de ambas as pesquisas que a população brasileira quer mais poder de compra e juros mais baixos.

Matheus Tancredo Toledo é cientista político e analista do NOPPE/FPA.