Memória: em março de 1963, Prestes era preso na clandestinidade
Casado com a alemã Olga Benário, líder comunista vivia clandestino no país
Polícia invade de manhã a residência de Luís Carlos Prestes (uma casa simples no Méier,subúrbio do Rio) e o prende, junto com sua mulher, Olga Benário, e a empregada da casa. Prestes é levado para a delegacia de pijama. Filinto Müller, chefe de polícia do Distrito Federal, telegrafa a todos os governadores comemorando a prisão do líder comunista.
A polícia estava no encalço do Cavaleiro da Esperança havia muitos meses. Ele chegara ao Brasil em abril de 1935 e, desde então, vivia na clandestinidade, mudando frequentemente de endereço. Após o levante comunista de novembro, as buscas se intensificaram, com a criação da Comissão de Repressão ao Comunismo em janeiro. A polícia contou com a ajuda de Alfred Hutt, superintendente da Light (companhia de energia elétrica do Rio de
Janeiro), na verdade um agente do serviço secreto inglês.
Mas foi só com violência que a polícia conseguiu localizar o esconderijo de Prestes. Inúmeros militantes do Partido Comunista do Brasil (PCB) foram barbaramente torturados para contar onde se encontrava o comandante da insurreição armada de novembro de1935. Em dezembro, fora preso o norte-americano Harry Berger e sua mulher, Sabo. Na realidade, ambos eram cidadãos alemães ligados ao Comitê Executivo da Internacional
Comunista e estavam no Brasil para prestar assistência a Prestes e à luta armada. Sabo era Elisabeth (Elise) Saborowski Ewert, e Harry, codinome de Arthur Ernest Ewert, ex-deputado pelo Partido Comunista da Alemanha.
Em janeiro de 1936, foi a vez de Adalberto de Andrade Fernandes, codinome do secretário- geral do PCB, o baiano Antônio Maciel Bonfim, também chamado de Miranda, e sua jovem esposa, Elza Fernandes — na verdade, Elvira Cupelo Colônio. Ao contrário dos alemães, Miranda entregou vários companheiros, mas não sabia do paradeiro de Prestes. O comunista argentino Rodolfo Gholdi também falou sob tortura. Por ele, os policiais souberam que Prestes estava casado com uma estrangeira, conhecida como Olga.
Também ouviram falar do comunista norte-americano Victor Allen Barron. Preso e submetido a seguidas seções de tortura, Barron acabou contando que o casal residia na região do Méier, subúrbio do Rio de Janeiro. Não falou mais nada, e foi morto pelos torturadores. A polícia já começava a montar o cerco.
Na casa onde viviam Olga e Prestes, foram encontrados documentos e uma caderneta cujas anotações ajudariam a polícia a deter outros importantes membros do partido. Prestes usava um passaporte português com o nome de Antônio Vilar, casado com Maria Bergner Vilar — na realidade, Olga Benário, militante comunista alemã que viera ao Brasil com a missão de dar apoio a Prestes. Na viagem e na clandestinidade, os dois se apaixonaram e
se tornaram marido e mulher.
Aquele dia, na delegacia, eles se viram pela última vez. Prestes ficaria preso por nove anos; Olga, mesmo grávida, seria deportada para a Alemanha e, de lá, enviada (com Elise Ewert) para campos de concentração nazistas.
Esta publicação é fruto da parceria entre o Centro Sérgio Buarque de Holanda, da FPA, e o Memorial da Democracia. Os textos remetem a um calendário de eventos e personalidades da esquerda que é colaborativo e está em constante atualização. Envie suas sugestões por e-mail para memoria@dev.fpabramo.org.br