O Núcleo de Pesquisas da Fundação Perseu Abramo (NOPPE/FPA) investigou o eleitorado que diz ter o PT como partido de preferência. Buscou-se olhar para este público a partir de uma leitura atenta do voto em vereador e dos dados de preferência partidária

Ricardo Stuckert

Nota-se que, à exceção dos períodos de grandes derrotas nacionais (Golpe de 2016/prisão de Lula), o PT sempre foi declarado o partido preferido por, pelo menos, 20% do eleitorado. Em dezembro de 2023, alcança a marca de 25%. Ou seja, 1 em cada 4 pessoas declara ter o PT como partido de preferência.

Os níveis de voto em vereador situam-se, no entanto, significativamente abaixo dos níveis de preferência partidária (e dos níveis de voto em deputados); em 2016 e 2020 desceram aos 5 dos votos válidos. Ou seja, tem-se nestes 20% do eleitorado (que gostam do PT, mas ainda não votam em vereadores do partido) um terreno de simpatia partidária significativo para conquistar.

A vitória de Lula e a recuperação do voto em deputados estaduais e federais reforça este argumento. Pode-se trabalhar para que o impacto da vitória nacional possa também prosseguir na eleição de vereadores deste ano, aproveitando desta janela de oportunidade que se abriu nas cidades.

Mas, como fazê-lo? A resposta parece estar numa combinação de quatro fatores: Partido —Programa — Lula — Presença Territorial

Partido

A amostra mostrou que valoriza a posição ideológica e programática do PT. Os direitos da classe trabalhadora, a defesa dos mais pobres e a luta pelas igualdades (social, gênero, raça) são as principais bandeiras visíveis do partido.

Considerarem que o PT é o único que olha ‘para os mais pobres’, ‘os que mais precisam’, muitas vezes, contra os ‘donos do poder’ (famílias tradicionais de políticos nas cidades,/oligarquias, empresários); mostrando-se, inclusive, desconfiados em relação a alianças com partidos mais à direita.

Nem todos conhecem a história do PT. Mas, quem conhece, valoriza com entusiasmo a história de luta da organização e o tema gera mobilização nos grupos.

Reconhecem como pontos altos do partido as gestões de Lula na presidência em seus dois primeiros mandatos. Aqui, surgem várias menções pulverizadas em diversas áreas (Educação, Economia, Emprego/Renda, Saúde, Habitação, Mobilidade). Mesmo sendo mais relacionadas a iniciativas de Lula, reconhecem como entregas chanceladas pelo PT.

Programa

Identificou-se que, nas cidades, são cinco os principais problemas relatados: Saúde; Infraestrutura e Mobilidade; Geração de Emprego e Educação; Segurança Pública; Mudança Climática e Saneamento Básico.

Na percepção da nossa amostra, nos três primeiros, o PT tem legado na área (citam a valorização do salário mínimo, Prouni, Samu, Mais Médicos) e credenciais para propor novas políticas.

A defesa do Meio Ambiente é também associada ao PT (principalmente pela figura de Marina Silva e defesa da Amazônia). Mas ainda falta repertório sobre qual é o programa do partido para a área.

Já o tema da Segurança Pública merece mais atenção. A maioria acredita que PT não tem políticas na área para apresentar, com exceção de políticas contra pobreza e desigualdade (muito valorizadas pela amostra, porém, entendidas como “indiretas”: garante-se oportunidade para o povo, a criminalidade diminui. Permeiam neste eleitorado críticas em direção ao partido com relação à dificuldade de enfrentar a criminalidade.

Tendo isso em vista, a FPA por meio dos NAPPs (Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas) preparou Cadernos Programáticos (programas de governo e segurança pública) para auxiliar os pré-candidatos na formulação de propostas para as suas cidades.

Lula

Assim como esperado, o apoio do Lula a algum candidato, seja para qual cargo for, é valorizado na amostra. Mas além do valor da imagem, no caso das eleições municipais, o aporte do Presidente remete à aprovação e efetivação de programas sociais e de projetos diversos nas cidades.

Presença Territorial

Notou-se também que, no momento de decidir o voto nas cidades, os “elementos programáticos” convivem com o peso dos laços eleitorais produzidos pela força da comunicação dos candidatos, presença/proximidade das lideranças nos municípios e por relações fortes de clientelismo. Assim, nos municípios a dimensão do território parece fundamental.

E esta presença territorial se faz sentir via figuras/lideranças do partido presentes na cidade (nas ruas, eventos, nos bairros, em movimentos sociais, associações…). Falar de PT no município, é falar de suas lideranças. O contrário também vale: cidade sem liderança, é cidade sem PT.

Por isso, parece fundamental que o candidato esteja conectado ao território e às aflições do povo.

Nota: a pesquisa foi realizada entre os dias 22 e 25 de abril com 12 grupos focais, sendo seis no Nordeste e seis no Sudeste. Os grupos eram compostos por eleitores de ambos os sexos, com idade entre 30 e 50 anos que declararam ter o PT como partido de preferência.