O encerramento da caravana Lula pelo Brasil no estado da Bahia aconteceu, neste sábado (19), em Feira de Santana. No ato de Defesa das Políticas Públicas para o Semiárido e Agricultura Familiar em Feira de Santana (BA), carregdo de história e de simbolismo para o povo do semiárido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva exaltou a história da Bahia, relembrou a luta do povo brasileiro e reafirmou que não haveria estado melhor para começar a caravana senão a região baiana.
“Nossos deputados, Jaques Wagner, Rui Costa, sabem que, um dia, na Praça Castro Alves eu disse que certamente em uma outra geração eu nasci na Bahia. Eu acho que tem poucos lugares do mundo que tem um povo tão alegre, tão feliz e tão sem rancor. A Bahia não é só música e alegria, a Bahia tem luta, uma luta muito antiga nesse país e o Brasil deve muito à Bahia”, disse Lula.
O ex-presidente cobrou que os políticos brasileiros “olhem a cara do povo como ela é”, se quiserem discutir e apresentar projetos para o País.
“Nós temos que cuidar do povo, cuidar do povo que é difícil, olhar para a cara de uma pessoa pobre e humilde, enxergar como um ser humano. É pra essa gente que o estado deve governar, que a gente tem que dar atenção”.
“Essa caravana tem como objetivo tentar conversar com o povo. Quase 30 anos depois da primeira grande caravana que eu fiz, agora tem como objetivo ouvir os movimentos, a gente aprender, levar tudo que a gente ouviu, ganhou e ganha de documento para começar a preparar um programa para construir o futuro de vocês”, explicou o ex-presidente a uma plateia formada, em grande parte, por pessoas que vivem da agricultura familiar na região.
“Saibam que eu vou andar por esse País. Depois eu vou para o Centro-Oeste, Sul, Sudeste, vou fazer a caravana das águas. Onde vocês estiverem, na situação em que vocês estiverem, saibam que vocês têm um companheiro disposto a lutar até o fim para que a gente possa conquistar e garantir a democracia”.
E Lula garantiu: o PT não apresentará propostas aos brasileiros baseado em resultados de pesquisa eleitoral. “Vai ser feito com base naquilo que o povo quer que seja feito”.
A atuação situação econômica e política do País também foi alvo de diversas críticas por parte do ex-presidente e de lideranças que participaram do ato, como a presidenta nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, e o governador da Bahia, Rui Costa.
“O Brasil está quebrado, e isso quebra os Estados, a prefeitura, quebra as indústrias, tudo fechando, o emprego está desaparecendo, o salário está reduzindo, o povo está deixando de comprar, não tem mais PAA, não tem Mais Alimentos, não tem mais financiamento e o povo vai ficando mais pobre outra vez”, disse o ex-presidente.
“Nós não queremos isso. Eu vim aqui para tentar afirmar para vocês, da mesma forma que eu dizia há muito tempo, que a seca no Nordeste era um fenômeno da natureza. Mas a morte e a miséria não eram um fenômeno da natural, eram resultado da irresponsabilidade de quem governava esse País”, completou Lula.
Para o ex-presidente, o Brasil está sem governo. “A verdade é que nós não temos governo, ele não representa o povo, representa uma parte da imprensa que derrubou a Dilma e os deputados picaretas que votaram contra Dilma”.
E, mais uma vez, ele voltou a falar sobre esperança e sobre a força que os brasileiros devem ter para que o País volte a crescer. “Para o Brasil voltar a andar a gente precisa levantar a cabeça. Não desanimar, levantar a cabeça para lutar. O Brasil tem jeito”.
Durante o discurso, o ex-presidente falou sobre diversas políticas públicas criadas pelos governos do PT para que o povo pudesse, ao menos, ter uma vida de convivência com a seca no sertão.
“Eu lembro que muitas vezes eu dizia: eu nunca vi o governo do Canadá dizer que iria acabar com a neve. Eles estabeleceram uma política de convivência com o inverno. E nós começamos a provar que é possível criar uma política de convivência com a seca, e garantir que o homem e a mulher possam viver. Isso, se tiver governo responsável”.
Lula não deixou de falar sobre a perseguição jurídica e política que tem sofrido. E garantiu não ter medo dessas investidas. “Eu sou temente a Deus. Eu não sou temente aos homens. Eu gosto de resolver tudo democraticamente, conversando e dialogando. Essa gente resolveu infernizar a minha vida achando que vou fazer como alguns políticos que quando são denunciados enfiam o rabo no meio das pernas e ficam quietos”.
“Sou daqueles que vou exigir que meus acusadores provem alguma coisa contra mim. Não fiquem achando que eu estou preocupado, que eu estou nervoso. Eu queria que vocês soubessem: se um dia o PT voltar a governar esse País, a gente vai fazer mais do que a gente fez, vai ter mais compromosso, porque agora temos certeza de quem tá do nosso lado”.
Água: direito de todos
Lula, que nasceu no sertão e precisou fugir para não morrer de fome e de sede, sabe bem que a água é um direito e uma necessidade do povo daquela região. “Água é um bem da natureza. A água é mais que um direito, é uma necessidade. O estado não tem o direito de permitir que o ser humano que precise de água fique submetido à industria dos caminhões pipa, que agora está voltando outra vez”.
O ex-presidente também reafirmou a necessidade de água para os pequenos agricultores, que apoiam o sustento dos milhões e milhões de brasileiros.
“A gente provou que através da agricultura familiar a gente pode sustentar a alimentação de 204 milhões de pessoas desse País. O que nós queremos é saber quem é que está plantando feijão, arroz, alface, cenoura, pimentao, pepino, quem está criando peixe.. É isso que sustenta esse país. É isso que dá dignidade a vocês”
Sobre a política, o ex-presidente voltou a cobrar o comprometimento dos eleitores na hora do voto. “É preciso eleger gente nossa! Quantas pessoas foram eleitas comprometidas com a agricultura? 3 ou 4? Quantos ruralistas foram eleitos? Mais de 200? Empresários? 200 ou 300?”, questionou.
“Não dá pra votar sem saber se o cidadão é raposa ou não. É preciso saber de que lado ele tá. Qual a proposta ele defende. Se ele vai ter coragem de acabar com a aposentadoria do trabalhor rural”.
Por Clarice Cardoso, enviada especial ao Nordeste com a caravana Lula pelo Brasil, para a Agência PT de Notícias
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