Entrevista: Denise Paraná, autora de “Lula, o filho do Brasil”
Como foi a aproximação com os Barreto para o filme?
Luís Carlos Barreto, o “Barretão” é um homem do mundo, está sempre viajando. Ao longo de décadas, quando estava em outro país e perguntavam sua nacionalidade, logo que respondia “brasileiro”, ouvia seu interlocutor falar no Pelé. Com a eleição presidencial de 2002 o quadro mudou, as pessoas passaram a falar no Lula. Barreto sentiu que o Brasil havia se transformado não só internamente, mas também aos olhos do mundo.
Barreto sabe que Lula representa um dos maiores líderes de massa mundiais, sua eleição representou uma ruptura histórica e, além disso, sua história de vida é fantástica. Quando leu “Lula, o filho do Brasil”, Barreto me ligou querendo comprar os direitos de filmagem do livro. Como adaptar o livro ao cinema já era um projeto meu desde 1991, quando comecei a escrevê-lo, fiquei muito contente com sua proposta. Afinal, a história do Barreto se confunde com a própria história do cinema brasileiro, ele já produziu mais de 80 filmes, é um produtor de grande experiência e sensibilidade.
O roteiro coloca Dona Lindú como narradora da história de seu filho. Foi uma forma de dar mais foco ao filme, uma homenagem à mãe de Lula, as duas coisas, ou teve outro motivo?
É mais que uma homenagem à mãe do Lula, é uma homenagem a todas as mulheres brasileiras que escreveram a história de nosso país. Dona Lindu é uma espécie de “mãe universal”, ela reflete o universo de incontáveis mães espalhadas mundo a fora, mulheres de fibra que deram a vida pela vida de seus filhos. Ela e o Lula são os personagens centrais do filme.
Filme e livro terminam mais ou menos no mesmo período: com Lula liderando as greves no final dos 70 e finalmente fundando o PT. Esse recorte se deveu a algum motivo especial? Foi uma forma de poder aprofundar mais o período escolhido?
Nosso filme não é partidário, nem tem interesse especificamente político. Nosso interesse está em retratar uma família típica brasileira, na verdade, estes Silva em questão são um retrato muito bem acabado da nossa nação. Mostramos porque e de que maneira é forjado um líder de massas como o Lula. Nosso interesse está calcado numa trajetória humana que é, ao mesmo tempo, tão singular e, paradoxalmente, tão universal. O filme começa com o nascimento de Lula e termina quando ele se torna um líder das greves de 1978, 1979 e 1980 no ABC Paulista que balançaram a ditadura militar sob a qual o país estava mergulhado.
Ao que parece, não foi fácil encontrar o intérprete ideal para o Lula e outros personagens importantes no filme. Ficou satisfeita com o elenco?
Sim, embora o elenco ainda esteja em formação, estou satisfeita com os nomes escolhidos.
No livro há um enfoque psicanalítico da relação de Lula com os pais, um viés, até certo ponto, ousado. Você poderia falar um pouco mais sobre isso? Esse viés foi transportado para o filme?
Este enfoque psicanalítico será tratado no filme, é uma questão fundamental para entender a construção deste líder de massas.
Como foi fazer 100 horas de entrevistas com o Lula?
As entrevistas foram muito emocionantes, Lula tocou em ponto delicados de sua vida, chorou várias vezes. Ele estava com o coração e a alma abertos. Para mim foi um enorme privilégio. “Lula, o filho do Brasil”, é a única biografia do presidente para qual ele concedeu entrevistas. Outras biografias publicadas foram baseadas no meu trabalho. Pessoalmente Lula é um personagem muito carismático.
Como historiadora, e vendo agora com algum distanciamento toda a trajetória de Lula, como você definiria a posição dele na história do Brasil e do mundo?
É difícil responder sua questão. O Historiador inglês Eric Hobsbawm nos lembra como é difícil analisar um fenômeno quando estamos no olho de um furacão. É lógico que, se pudéssemos analisar o período histórico que estamos vivendo daqui há algumas décadas, nossa visão seria outra. Mas a princípio, acredito que é legítimo dizer que Lula representou uma ruptura histórica tornando-se o primeiro governante do país de origem da classe trabalhadora. Embora seu governo não seja capaz de resolver problemas sociais cujas raízes são profundas e seculares, vem realizando obras importantes para minimizar as brutais desigualdades sociais características da nossa nação.
Considerando-se a popularidade de Lula no exterior, em que pé estão as traduções do livro?
O livro já foi traduzindo para várias línguas, inclusive para o coreano. Estou publicando agora em 2009, em co-autoria com Ted Gortzel, que é brasilianista e biógrafo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, uma versão para o inglês com análises do Governo Lula.