Depois da última reunião dos chefes de governo em novembro último, a UNASUL, a associação dos países da América do Sul, transcendeu a fase meramente declaratória dos líderes políticos e tomou um rumo de ação, criando uma Secretaria Geral que logo começou a trabalhar e vem de apresentar a primeira proposta concreta em prol do desenvolvimento integrado do Continente. 

Trata-se de uma estratégia de exploração integrada dos recursos naturais da região, visando o seu melhor aproveitamento possível em termos de industrialização, de transporte, de desenvolvimento tecnológico, de valorização do trabalho, de preservação ambiental, e de obtenção de melhores preços para esses recursos através de uma política de comercialização comum a todos os membros do grupo.

A América do Sul, no seu conjunto, com 6% da população mundial e 12% da superfície territorial, não constitui uma potência econômica, nem militar, nem financeira, nem tecnológica, mas possui um gigantesco potencial de recursos naturais, até há pouco muito mal aproveitado, sob o comando de grandes empresas multinacionais que processavam essa exploração segundo estratégias definidas pelos seus próprios interesses.

O bloco da UNASUL é o conjunto de países que possui o maior potencial energético do planeta, considerando suas reservas de petróleo e gás, seu potencial hidrelétrico e seu potencial solar e eólico. Possui as maiores reservas hídricas do mundo e a maior reserva de biodiversidade. E possui enormes jazidas minerais de prata, de cobre, de ferro, de alumínio e de níquel, além das maiores reservas mundiais do estratégico lítio, cuja demanda crescerá agudamente nas próximas décadas para a fabricação das melhores baterias. 

É importante ressaltar que todo este potencial referido está muito longe de um conhecimento completo. 

Grandes áreas do Continente jamais foram pesquisadas. Exemplo marcante desse potencial desconhecido é a nossa maior riqueza de petróleo, no pré-sal, bastante grande, descoberta em tempos relativamente recentes, graças ao esforço geológico e tecnológico da Petrobrás. Assim é que, na proposta da UNASUL, consta como primeiro item a criação de um serviço geológico continental. com a missão de mapear as ocorrências já levantadas e pesquisar enormes áreas hoje desconhecidas. 

À pesquisa geológica se deve acrescentar a pesquisa tecnológica ligada à extração, à logística e ao aproveitamento industrial dos recursos naturais disponíveis. Exemplo desses melhoramentos tecnológicos importantes é o avanço conseguido ultimamente pelos técnicos da Eletrobrás para o transmissão de energia elétrica a grandes distâncias utilizando voltagens bem maiores do que as que são usadas no mundo inteiro, obtendo substancial redução de perdas, com grande economia neste setor.

O resultado do esforço tecnológico, das pesquisas desenvolvidas, assim como a própria atividade da pesquisa devem produzir importantes ganhos na formação de pessoal especializado, ganhos que se multiplicarão por toda a sociedade dos países sulamericanos.

A melhor utilização dessa riqueza de recursos naturais vai exigir a montagem de fortes esquemas e mecanismos de financiamento, o que constitui, aliás, um dos maiores desafios, senão o maior, do projeto de desenvolvimento continental. E, neste particular, o Brasil terá fatalmente de entrar com uma contribuição bem maior do que os demais

*Roberto Saturnino Braga, ex-senador (PT/RJ), é autor de O curso das ideias (editado pela EFPA) e integrou o Conselho Curador da FPA. 

Contatos: saturnino.braga@uol.com.br