Primeiro da série de cinco eventos regionais preparatórios para o 5º Congresso do PT debateu o neoliberalismo e a construção do socialismo no Brasil

A Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), e a Fundação Perseu Abramo (FPA), realizaram nesta quinta-feira, 16, o primeiro de uma série de cinco debates preparatórios para o 5o Congresso Nacional do PT, que será realizado em junho, em Salvador (BA).

No centro da capital paulista, com o tema “Neoliberalismo, pós-neoliberalismo e os desafios da construção do socialismo no Brasil”, a primeira edição dos debates preparatórios para o 5o Congresso Nacional do PT contou com a abertura de Joaquim Soriano, diretor da FPA, e Romênio Pereira, secretário-geral do PTPereira cumprimentou a FPA pela organização destes debates prévios, que irão subsidiar as discussões do quinto congresso do PT. “O PT realiza seu quinto congresso em uma conjuntura totalmente desfavorável, mas enfrentar desafios faz parte da nossa história. A palavra que define o PT em sua história é ‘superação’. Nossa direção nacional conta muito com o talento da direção da FPA em nossa caminhada. O papel dos intelectuais de esquerda sempre foi preponderante na história”, destacou Romênio.

A mesa foi coordenda por Emídio de Souza, presidente do Partido dos Trabalhadores de São Paulo, que ressaltou o caráter prepartório do debate, como forma de estabelecer as bases das discussões para o 5o Congresso do PT.

Primeiro debate prepatório

O primeiro debatedor foi o cientísta político Emir Sader. Fazendo uma retrospectiva histórica do surgimento do PT, Emir lembrou que, no período de nascimento do partido, “passamos de um mundo bipolar para um mundo unipolar, o fim do socialismo se deu pela direita. O retrocesso foi mais forte na América Latina, por isso aqui surgiu o que chamo de ‘pós-liberalismo’”.

Emir argumentou que uma democracia é a socialização dos direitos, socialismo é a universalização da esfera pública. “Nós do PT temos um fio condutor, a prioridade do social, e não podemos nos esquecer disso”.

O segundo a falar foi Raul Pont, membro do diretório nacional do PT, que, ao resgatar os motivos de fundação do PT, ainda na década de 1980, lembrou: “buscávamos um partido que efetiviamente tivesse o socialismo no escopo, no horizonte, e isso tinha como requisito fundamental a organização independente dos trabalhadores.”

Neste sentido, o ex-prefeito de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, ressaltou a importância do estabelecimento de uma estratégia para o PT. “Como estamos discutindo o quinto congresso, nada mais importante do que discutirmos estratégia. Qual nossa estratégia para enfrentarmos essa crise do neolliberalismo? Esta tarefa ainda está em aberto. E também devemos discutir como garantimos esse processo de democratização. Que tipo de estado queremos? Esses devem ser os pontos debatidos aqui e no quinto congresso.”

Para a historiadora e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Heloisa Starling, estamos vivendo hoje no país uma “situação estranha”, que parecer ser o início de uma novíssima história do Brasil. “Ao que tudo indica estamos em um esgotamento da agenda que começou há trinta anos, a Nova República. Esgotamento da lógica de um sistema político, que é o presidencialismo de coalização, que funciona como uma espécie de freio do pleno desenvolvimento político da sociedade.”
 
Segundo a historiadora, há uma disputa pela hegemonia neste país, que não é só política, é cultural e moral. O espaço político que se abriu em junho de 2013, e ele não mais se fechará. “Qual a agenda que se quer pro Brasil? É possível construir uma agenda de radicalização democrática e de direitos? É possível colocar uma agenda deste tipo no horizonte político desse país?”, indagou a professora da UFMG. Para Heloísa, existe agora uma chance de aproximarmos o republicanismo e o socialismo no Brasil. “O republicanismo nos fornece as ferramentas de expansão da esfera pública, e a mudança sem precedente seria dar uma forma republicana à República no Brasil. Quem sabe 2015 descortine a mudança para que a república seja republicanizada no país por meio das forças de esquerda”, disse Heloísa.


 
Por fim, o presidente do Conselho Nacional do Sesi, Gilberto Carvalho, ponderou sobre o poder das ideias e ideologias capitalistas. “O neoliberalismo é muito mais que um modo de produção, mas produziu uma forma de poder, uma ética própria, e uma ideologia que efeitvamente se massificou por meio dos aparelhos que o capitalismo dispõe, e desceu para o conjunto da nossa população e do mundo inteiro, onde os valores afirmados são o consumo, a disputa, o individualismmo, e também, pelos mesmos aparelhos, uma destruição dos valores que marcam o socialismo, os sonhos, a paixão e compaixão.”

Segundo Carvalho, “o tático massacrou o estratégico” no desenvolvimento dos governos do PT, especialmente na presidência da República, a partir de 2003. “Criamos na prática políticas solidárias neste país, mas não conseguimos fazer a batalha da narrativa, aceitamos esses valores, e não há vazio no debate ideológico e político.” Segundo o ex-ministro, é preciso que o PT retome a ousadia na comunicação de suas ideias e ações, de sua ideologia, e mais, “é preciso construir um centro de inteligência progressista.”

Na sequência, militantes e dirigentes presentes se inscreveram para fazer observações, perguntas, e dar opiniões sobre a atuação da legenda e os temas a serem debatidos no 5 Congresso do PT. Dentre estes, o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destacou a necessidade de o PT somar forças em uma frente mais ampla. “Hoje existe uma esquerda social no país, que não participa de partidos políticos, sem a qual não vamos construir uma agenda contemporânea.”


O encerramento das participações do público se deu com um depoimento do ator Sergio Mamberti: “Temos que acreditar que o que realizamos nos útlimos anos, e nossa proposta, estão vivos na sociedade. Não posso acreditar que tenhamos que viver de novo o pânico de 64. Já avançamos demais, não podemos recuar, e o Brasil espera isso da gente”, concluiu o ator.
 
Debates em todo o país
A série de debates está agendada para ocorrer nas cinco grandes regiões geográficas do País. Todos serão abertos ao público em geral, não se restringindo à militância petista, e transmitidos ao vivo pela tevêFPA.

Os próximos acontecem em: Recife (PE), dia 24 de abril, com o tema “O papel do Brasil em um mundo em transformação: a ordem econômica e geopolítica internacional”; Belém (PA), dia 8 de maio, com o tema “Modelo de desenvolvimento, redução das desigualdades e mudanças estruturais no Brasil”; Porto Alegre (RS), 18 de maio, “Os impasses da democracia no Brasil: a centralidade da reforma política e da democratização do meios de comunicação”;, e Brasília (DF), 28 de maio, “O Brasil e a equidade social: os direitos dos segmentos sociais historicamente discriminados”.

Congresso do PT
O 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores (PT) será realizado em Salvador, na Bahia, de 11 a 13 de junho de 2015. Nele, os delegados e delegadas petistas vão discutir e deliberar sobre a atualização do projeto partidário, os desafios dos novos tempos, a situação nacional e internacional, as perspectivas de avanço do projeto político e a renovação do modelo de organização do PT, além da aprovação de um plano de ação partidária para os próximos quatro anos.

 – FPA lança hotsite sobre 5º Congresso