Economia brasileira seguiu seu caminho de desaceleração no segundo trimestre do ano, de acordo com os dados do IBC-Br

Ano 1 – nº 06 – Agosto 2016

Nível de atividade

A economia brasileira seguiu seu caminho de desaceleração no segundo trimestre do ano, de acordo com os dados do IBC-Br, índice calculado pelo Banco Central que funciona como uma espécie de “prévia” do Produto Interno Bruto (PIB) do período. O indicador do Bacen, que compila dados de produção e comércio, registrou queda de 0,53% no segundo trimestre, apesar da modesta alta de 0,23% registrada em junho. No acumulado de doze meses, o índice alcançou a marca negativa de retração de 5,67%, ou 4,26% na comparação com junho de 2015.

O resultado confirmou que a economia nacional permanece em queda, apesar de alguns dados apontarem para uma estabilização da retração no mês de junho. As vendas no varejo, por exemplo, apresentaram alta de 0,1% em junho, mas o varejo ampliado (que inclui venda de peças, partes, veículos automotores e construção civil) manteve a trajetória de queda, marcando variação negativa de 0,2% em relação ao mês anterior. Além disso, a produção industrial de junho também ficou no campo positivo (como discutido na seção Indústria), subindo 1,1%, puxada pelas exportações de bens de capital (discutido na seção de comércio exterior).

Apesar dos sinais de estabilização econômica em alguns indicadores no mês de junho, não há nenhuma base real para afirmar que a recessão brasileira acabou. Em primeiro lugar, a frágil e inconsistente recuperação industrial parece pesadamente dependente da exportação de alguns setores específicos (como bens de capital), que serão prejudicados pela estratégia do governo interino de valorizar o câmbio para conter a inflação. Em segundo lugar, a recuperação pelo aumento do consumo das famílias não parece possível em um cenário de aumento do desemprego e queda da renda, o que ocasiona a queda das concessões de crédito e do consumo. Mesmo com momentos pontuais de recuperação (como em junho, devido particularmente ao inverno e a feriados juninos, que puxaram a venda de roupas e têxteis), o mais provável é que o consumo das famílias não volte a ser o motor do crescimento econômico brasileiro no curto prazo. Por fim, todas as fichas do governo interino estão depositadas em uma retomada do investimento privado (já que o investimento público está ideologicamente condenado e limitado pela atual crise fiscal), que em tese seria retomado com a volta da confiança e a confirmação do impeachment. O problema é acreditar que o empresário voltará a investir com o elevado grau de ociosidade presente hoje na indústria, além da absoluta falta de perspectiva para a retomada da demanda no futuro com a atual política macroeconômica recessiva. A fé na volta do crescimento é apenas uma forma de enganar os incautos e sustentar um otimismo infundado, em particular se o governo inteiro se tornar permanente e mantiver a atual política econômica.

Comércio exterior

Como apresentado em boletins anteriores, os números referentes à balança comercial têm sido positivos. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) mostram que a balança comercial teve um superávit de US$ 4,579 bilhões em julho. Entre janeiro e julho de 2016, o saldo da balança comercial acumulou um superávit de US$ 28,230 bilhões. Uma análise da série histórica revela que este foi o melhor resultado para os sete primeiros meses de um ano desde seu início, em 1989. Até então, o maior saldo para este período havia sido registrado em 2006, com superávit de US$ 25,19 bilhões. Como no mês anterior, ocorreu maior queda nas importações do que nas exportações, o que vem possibilitando uma significativa melhora na balança comercial brasileira.

Este resultado é fruto da redução das exportações em 5,6% e da queda das importações na ordem de 27,6% no acumulado do ano. Em termos de volume exportado, o Brasil tem tido bom desempenho desde o ano passado. Já em valor, o país tem exportado menos, sobretudo devido à queda do preço das commodities – bens primários com cotação internacional.

Assim, a despeito da forte volatilidade do real, sobretudo no primeiro semestre do ano, o patamar da taxa de câmbio do mês de julho ainda foi favorável ao aumento das exportações e redução das importações. No mês de julho a volatilidade do real foi menor que nos meses anteriores, no entanto ainda inspira preocupação quanto a sua rota. Com o dólar operando por volta de R$ 3,20, a taxa de câmbio se encontra no limite. Abaixo deste patamar poderá ocorrer a perda de competitividade de produtos nacionais em mercados internacionais, particularmente aqueles mais dinâmicos e intensivos em tecnologia. É necessário que a política econômica se volte para a utilização da taxa de câmbio como ferramenta de estímulo ao setor industrial e contenção do processo de desindustrialização da economia.

Política monetária e inflação

Segundo dados do IBGE, a inflação mensurada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou variação mensal de 0,52% em julho. Em junho a alta havia sido de 0,35%, de forma que o número deste mês veio acima do esperado por analistas econômicos. Em julho de 2015, o aumento da inflação havia sido de 0,62%. No acumulado do ano, o aumento registrado é de 4,96%, abaixo dos 6,83% para o mesmo período de 2015. Em uma ótica dos últimos doze meses, a inflação acumula 8,74%, ou seja, inferior à taxa de 8,84% verificada nos doze meses imediatamente anteriores.

O grupo Alimentação e bebidas, que corresponde a 65% do IPCA em julho, avançou 1,32%. Trata-se da maior alta do mês desde 2000, quando subiu 1,78%. O leite e o feijão-carioca figuraram com as contribuições mais fortes no grupo. O primeiro, que subiu 17,58% em julho, teve contribuição de 0,19 ponto percentual no índice. O segundo, que teve aumento de 32,42% no mês, contribuiu com 0,13 ponto percentual para a inflação do mês. Ademais, o IBGE destacou o arroz 4,68% mais caro na média das regiões. No acumulado do ano os preços dos alimentos registram alta de 8,79%.

As razões para este aumento no grupo de alimentos e bebidas se deram particularmente por fatores climáticos que causaram problemas na safra, por exemplo, do feijão. Ademais, dado que o leite, arroz e o feijão são tidos como alimentos básicos na mesa dos brasileiros, há um maior espaço para os empresários tentarem recuperar a margem de lucro reprimida durante a crise. Assim, pode-se concluir que o aumento da inflação do mês de julho foi causado por fatores do lado da oferta, ou seja, pelo lado da produção.

Indústria

Dados divulgados pelo IBGE – Produção Física (PIM-PF) – mostram que a produção industrial de junho teve aumento de 1,1% quando comparada com o mês anterior. Tal resultado reflete uma melhora. No entanto, o dado não foi suficiente para eliminar as perdas registradas no primeiro semestre, da ordem de 9,1%.

A pesquisa acompanhou 24 setores. Destes, dezoito tiveram alta na produção de junho. O setor de veículos automotores, reboques e carrocerias teve um crescimento de 8,4%. Os setores de metalurgia, perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene cresceram ambos 4,7%. Já os setores de produtos alimentícios e bebidas registraram quedas respectivamente de 0,7% e 2,6% na comparação com maio. O setor de papel e celulose caiu 2%. O grupo de Bens de capital foi o que registrou a maior alta, com 2,1% de crescimento. Os grupos de Bens de consumo e Semiduráveis e não duráveis apresentaram ambos um aumento de 1,20%.

Tal resultado se dá especialmente por dois fatores, a saber: o aumento das exportações – sobretudo de setores mais dinâmicos e sensíveis ao ganho de competitividade pelo efeito da taxa de câmbio ainda favorável – e a necessidade de reposição de máquinas e equipamentos obsoletos depois de um longo período de queda dos investimentos em capital fixo. O dado pode ensejar projeções otimistas, mas ainda é cedo para traçar uma trajetória de recuperação e tem de haver cautela nas análises.

Conclusão

Com o processo de impeachment chegando a sua reta final, o governo interino fará o máximo esforço para apontar dados que mostrem algum grau de retomada das perspectivas positivas na economia. Parece evidente que a recessão não durará para sempre, o que fortalece a opinião daqueles que acreditam que já chegamos ao “fundo do poço” e agora passaremos por um processo de estabilização no nível de atividade, mesmo que nos atuais patamares bastante baixos. Além disso, a inflação continuará sua lenta trajetória de queda, que já estava ocorrendo nos últimos meses do governo Dilma com o fim do choque dos preços administrados e da desvalorização cambial.

O problema é que, mesmo que a recessão se estabilize e a inflação caia até o final do ano, a política econômica do governo interino não traz nenhuma perspectiva de recuperação do crescimento no médio/longo prazo. A aposta pueril de que os empresários privados, em meio a uma profunda crise financeira e com o cenário internacional eivado de incertezas, serão os grandes atores do desenvolvimento brasileiro nos próximos anos, ignora completamente não apenas a história do desenvolvimento nacional, mas os próprios princípios básicos da decisão empresarial. Sem novos investimentos, o desemprego continuará aumentando e, em pouco tempo, as pessoas perceberão que as promessas frágeis de recuperação econômica atingem apenas o andar de cima, deixando os mais pobres e os trabalhadores arcarem com os custos do ajuste fiscal e da privatização dos serviços públicos. É possível que, com o acobertamento de grande parte da mídia, o povo só perceba o tamanho do golpe quando for tarde demais.