Por Catiana Medeiros
Fotos: Matheus Alves
Da Página do MST

Atingindo seu recorde de público, a 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária trouxe para a cidade de São Paulo uma diversidade de alimentos saudáveis produzidos por trabalhadoras e trabalhadores do MST em 23 estados do país e no Distrito Federal.

Ao todo, foram 420 toneladas de produtos comercializados, a preço justo, por 1215 feirantes assentados e acampados. O evento realizado no Parque da Água Branca coloca em evidência a cultura popular, e o diálogo com a sociedade sobre a necessidade de outro modelo de alimentação, a partir da produção camponesa de alimentos saudáveis.

Segundo Bárbara Loureiro, da coordenação do setor de Produção, em seus quatros dias de duração (3 a 6 de maio), a feira recebeu 260 mil visitantes – 90 mil a mais do que em sua segunda edição – de todas as idades. Além de adquirir produtos da Reforma Agrária e de experimentar comidas típicas das cinco regiões do país, eles puderam acompanhar gratuitamente uma vasta programação cultural, com a participação de 367 artistas, que envolveu em shows no Palco Arena nomes nacionalmente consagrados e amigos do MST, como Ilê Aiyê, Otto, Martinho da Vila, Siba, Tião Carvalho, Ana Cañas e a Escola de Samba Paraíso do Tuiuti.

Já no Palco Culinária da Terra, dezenas de artistas populares se apresentaram, entre eles o quarteto As Cantadeiras, a cantora sergipana Val Santos e o autor da melodia que embala o hino do MST, o mineiro Zé Pinto, e artistas parceiros, como o grupo Mistura Popular. Foram essas apresentações que mais chamaram a atenção de dona Marli Moreira de Sousa, 73 anos, moradora do bairro Butantã de São Paulo.

Ela veio para a feira pela primeira vez neste domingo, junto com sua professora e colegas de uma escola de Ensino Fundamental, e já planeja voltar na próxima edição. “É muito bom, porque tem coisas diferentes. O que eu mais gostei foi da diversidade de produtos e dos músicos, porque eu adoro música. Quero voltar ano que vem, se Deus quiser”, afirmou.

Segundo Bárbara, foram comercializadas na feira 1530 tipos de alimentos in natura e agroindustrializados, sendo alguns deles orgânicos, além de artesanatos, sementes e mudas.

No espaço “Culinária da Terra”, os trabalhadores do MST e parceiros prepararam em 24 cozinhas refeições nos quatro dias, todas com produtos da Reforma Agrária e com sabores variados de 75 pratos típicos de todas as regiões do país.  “Oferecemos alimentos que não são encontrados aqui em São Paulo, como pato no tucupi, galinhada com pequi e a moqueca capixaba”, acrescenta.

De acordo com Milton José Fornazieri, também da coordenação nacional do setor de Produção, a feira cumpriu mais uma vez o seu papel ao mostrar que a Reforma Agrária dá certo, que produz alimentos saudáveis, e ao estabelecer diálogo direito com a população de São Paulo.

“Quem frequentou o parque nesses quatro dias conseguiu ter outra visão da Reforma Agrária e o papel que o MST tem nesse processo da luta. Conseguimos abrir um diálogo entre os feirantes e os consumidores, onde a feira se transformou num espaço de troca de informações e de repasse de ideias, sobretudo sobre como se vive no campo e nos assentamentos. Mostramos que o Movimento possui uma relação de respeito e cuidado com a terra, e que isso está acima do lucro que o agronegócio sempre expressa, pois a agroecologia é a nossa fonte de inspiração e linha a ser seguida”, disse.

Seminários e conferência

A feira propiciou seminários com representantes de movimentos populares, da sociedade civil, de instituições e de entidades, sobre promoção à biodiversidade, desafios da alimentação saudável na educação escolar, políticas públicas e comercialização dos produtos da Reforma Agrária Popular e da Agricultura Familiar, a importância da água, saúde universal e democracia, e a questão dos agrotóxicos no Brasil. Também teve momento de discussão sobre o caso da vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL) e do motorista do carro no qual ela estava, pautando a impunidade, o fim do genocídio negro e a intervenção militar no Rio de Janeiro.

Ainda aconteceu uma conferência sobre alimentação saudável, que é uma das principais propostas do MST dentro do projeto da Reforma Agrária Popular. O objetivo foi ampliar o debate com a população, aproximando campo e cidade, sobre a necessidade e possibilidades de uma alimentação saudável no prato dos brasileiros.
A atividade reuniu a chef de cozinha Bel Coelho, o coordenador nacional do MST João Pedro Stédile, a professora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Patrícia Jaime, e o Arcebispo de Botucatu, Dom Maurício Grotto. Na ocasião, também foi feita uma homenagem ao economista Paul Singer, que faleceu em abril deste ano e foi um dos idealizadores da Economia Solidária.

Ainda durante a conferência, foi lida uma carta enviada de Curitiba pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que esteve nas duas primeiras edições da feira nacional. “Ela é uma demonstração para a sociedade, no coração da metrópole, do resultado da luta do MST: famílias com uma vida digna no campo e alimentos saudáveis para a cidade. Mais de 70% do alimento consumido pelo brasileiro vem da agricultura familiar”, diz trecho da carta.
Lula lamentou ainda não poder estar presente nesta edição. “Esse ano não posso estar com vocês. Mas espero em breve estarmos juntos de novo, construindo o país melhor – mais solidário, mais humano, menos desigual – pelo qual sonhamos e seguimos na luta”, finalizou.

Mais cultura

A 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária trouxe ainda para a capital paulista diversos espetáculos na Ciranda Infantil, intervenções itinerantes, cortejos e teatro. Além disso, teve os espaços Café Literário, com a presença da Editora Expressão Popular e do Armazém do Campo, e Feira de Sementes e Artesanato. Jongo, folia de reis, repente nordestino e coco de roda também fizeram parte da programação da maior feira de diversidade de produtos do país.

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