Os protestos e manifestações no Chile continuam. A Unidade Social (frente que congrega a central sindical CUT e seus sindicatos filiados, além de movimentos sociais e estudantis) divulgou na semana passada uma pauta de reivindicações que inclui, além de uma nova Constituição para substituir o texto elaborado e aprovado na ditadura Pinochet, outros nove pontos:

– salário mínimo de quinhentos mil pesos, equivalente a 671 dólares. Atualmente, o mínimo no Chile é menos da metade disso para pessoas entre 18 anos e 65 anos, e cai para 123 mil pesos para pessoas mais jovens que 18;

– liberdade de greve como direito fundamental;

– aposentadorias com piso igual ao do salário mínimo proposto;

– taxas de serviços públicos como água, luz, telefone, gás e internet não podem exceder a 15% do salário mínimo de quinhentos mil pesos reivindicado;

– volta do sistema de transporte público ao controle do Estado, incluindo estradas, trens, ônibus e metrô. A Unidade Social aponta que os contratos de concessão de estradas estão próximos da data de renovação, o que pode ser uma oportunidade de revogar a privatização;

– redução da jornada de trabalho para quarenta horas semanais;

– criação de rede pública de saúde, educação e moradia;

– retirada imediata das Forças Armadas das ruas e apuração e julgamento das vinte mortes de civis ocorridas durante as manifestações e dos casos em que manifestantes perderam ao menos um olho por disparo de balas de borracha;

– debate público para elaboração do orçamento federal de 2020, com prioridade para políticas sociais.

Créditos: Nayareth Quevedo

Manifestação no Parque O’Higgins, no dia 27 de outubro

 

Na última segunda-feira, 4 de novembro, novos e grandes protestos ocuparam ruas de diferentes cidades do país, naquela que foi batizada pelos manifestantes de “super-segunda”. Segundo a coordenação da frente Unidade Social, as manifestações devem continuar ao longo desta semana.

Uma das táticas para os próximos dias é a realização de assembleias populares no maior número de cidades chilenas quanto possível, com o objetivo de debater propostas para uma nova Constituição.

A jornalista e coordenadora da Internacional de Serviços Públicos (ISP) para o Cone Sul, Nayareth Quevedo, informa que as forças de direita, que ainda disputam o protagonismo das mobilizações, sofreram duro revés desde que a marcha convocada pelo pré-candidato ultraconservador Jose Antonio Kast, no dia 27 de outubro, foi desmarcada de última hora.

Os recuos do presidente Sebastian Piñera – como por exemplo a promessa de revogação de aumentos de tarifas de transporte e eletricidade e aumento do chamado Pilar Solidário, complementação pública de aposentadorias para os mais pobres, criado por Michelle Bachelet –, com pretenso apelo popular, também contribuíram para a perda de força dos conservadores.

Nayareth informa que os jovens e adolescentes têm consolidado papel de ponta-de-lança das mobilizações. “O governo continua apostando no cansaço e na divisão de um movimento que não tem claro quem o conduz ou se quer ser conduzido. A sua maioria é composta de adolescentes que vem mostrando mais sensibilidade histórica e revolta política que qualquer outro setor da sociedade”, diz ela.