O livro Cultura Política das Periferias Estratégias de Reexistência, lançado pelo selo Reconexão Periferias, da Fundação Perseu Abramo, está disponível para ser baixado gratuitamente neste link. Organizada por Ana Lucia Silva Souza, a publicação traz um capítulo introdutório e 23 artigos de 42 autores que expressam vozes de coletivos, produções e fazeres da cultura periférica, na contramão dos apagamentos e silenciamentos sistemáticos cotidianos, em especial os das juventudes negras.

O evento de lançamento será realizado nesta segunda-feira, 29 de março, às 19h, com a participação dos autores, e transmitido pelo perfil da Fundação Perseu Abramo no Facebook e pelo canal da instituição no Youtube.

A publicação abre uma série de três livros que tratarão também dos temas Violência e Trabalho, em relatos e poemas sobre experiências vividas por ativistas, intelectuais, estudantes, militantes e artistas, que produzem e reinventam modos de viver para configurar estratégias de resistência nas periferias de todo o Brasil.

O livro convida à leitura, como em uma roda de conversa ancestral. Inicialmente, Francisco César Rodrigues (Chico César) e Richard Pereira oferecem rimas e imagens em #Parem de nos matar! A cada 23 minutos um jovem negro é morto no Brasil, para dizer não ao genocídio imposto desde sempre, em especial à juventude.

Na sequência, André Luiz Moraes e Vanessa Cristina Dias de Souza afirmam a diversidade das juventudes, ao tratar da trajetória de um grupo de jovens candomblecistas em Juventude de Terreiro da Região Metropolitana de Campinas: memória, desafios e avanços.

Depois, o artigo Movimento negro evangélico: a disputa narrativa em meio ao conservadorismo nas periferias, de Marcelo Rocha e João Marcos Bigon, trata de questões ainda pouco discutidas no âmbito do movimento negro evangélico, mostrando como o agrupamento que se propõe a uma disputa de narrativa.

Em Sobre Kilombos e Lanceiras: construção, coletividade e reexistência, Jéssica Teixeira Eugenio orquestra as vozes em um coletivo organizado dentro de uma universidade brasileira sulista, que buscou maneiras de compreender que, para além da cultura eurocêntrica, há outras epistemes presentes importantes para sustentar os modos de fazer a vida.

Na sequência, Reexistência Sapatona – Uma experiência de ativismonegra, lésbica e periférica em Salvador, de Bruna Bastos, relata a trajetória da Coletiva Brejo, que trata das diferenças do que é ser mulher, lésbica e preta, assim como do modo de existir de quem se visibiliza e se valoriza nas periferias.

Na escrita de Ana Vitória Pontes, Dandara Rocha, Erika França, Mathu Capistrano e Pietra Azevedo, em Cartas para além das fronteiras de travestis periféricas, está a poética forte, decidida e cheia de gentileza, que expõe tanto as mazelas como as escolhas que, mesmo aparentemente individuais, são coletivas e traduzem uma parte da vida de travestis periféricas.

Posteriormente, um texto de duas vozes que se entrecruzam quando Carolina Farias Moraes encontra Mariana Andrade Fausto abordam a Cultura política nas periferias e a dinâmica de sociabilidade coletiva no futebol de várzea, que, pelo Brasil todo, se enlaça nas ideias do texto Uma voz da periferia que atravessa o Atlântico: entrevista realizada com Mariana Andrade Fausto.

Com Um olhar cruzado pelo ser quilombola, Givânia Maria da Silva busca essa ponderação de maneira aprofundada sobre aspectos sócio-históricos e a existência do ser quilombola no Brasil e aponta os desafios e as perspectivas para a vida nos quilombos, em especial das mulheres.

Conectando-se a essa voz, Janja Araújo, com a sapiência e ginga da capoeira Angola, oferece em sua escrita alguns traçados dessa cultura que, com diferentes sentidos, mostra-se cada vez mais importante na construção do imaginário do que pode ser entendido negra e negro no Brasil, refazendo histórias de resistência e de reexistências que nos educam por meio das

Culturas tradicionais e territórios de autoinscrição: memória e resistência negra.

Espaços múltiplos como os descritos em Negros e territórios: clubes negros e identidades em Ponta Grossa e Tibagi, que Merylin Ricieli dos Santos e Ione da Silva Jovino apresentam. Ainda pouco estudados, os clubes negros são um ponto importante do se pode compreender como espaços negros

que colaboram para a construção de identidades e trajetos.

Os percursos das tradições podem ser retraçados através de Samba, dissembas e massembas: os ca-minhos grafados dos sambas escritos, que, no artigo de Maitê Freitas, rememoram, a partir de sua própria história de vida, os caminhos que a levaram a pensar samba como espaço de letrar.

Também pensando esse universo negro como fundamental para sustentação de trajetórias, Tadeu Kaçula revisita Rodas, Terreiros e Comunidades Periféricas do Samba de São Paulo em seu artigo, inserindo o leitor no território urbano de criação e de modos de vida em torno do samba e das comunidades periféricas em São Paulo.

Em seguida, Lílian Latties e Rosivaldo Gomes lembram a importância de uma educação na qual todos os conhecimentos sejam considerados e valorizados, ponderando que o uso da palavra seja sempre uma prática social que transgride.

Felipe Cortez, Felipe Matos, Laiene Souza, Lucas Martins, Raissa Faria, William Nascimento mostram as vozes das juventudes não urbanas na participação de movimentos coletivos como sujeitos em Comunicação, resistência e território, um breve relato sobre a experiência da rede de comunicadores populares do Vale do Jequitinhonha.

Em Linguagem como mandinga: população negra e periférica reinventando epistemologias, Kassandra Muniz defende com veemência a vida da população negra que, até agora e daqui para frente, requer a busca constante por brechas nos espaços de ser nas periferias em que se vive.

O texto Criação e transcrição poética como forma de resistência do negro-surdo brasileiro reúne junta pessoas ouvintes e surdas para mostrar as performances da linguagem. Nele, Diléia Aparecida Martins, Edvaldo Carmo dos Santos, Joyce Cristina de Souza e Wesley Nascimento Santos mostram, por meio de mãos negras amorosas, o mundo pouco conhecido de estratégias de resistência de pessoas negras surdas.

Em sucessão, Jordânia Marçal Machado, Kakra Mene (Mikaela Gabriele) e Kwame Ankh, autoras de Reexistência: complexo matutado nas andanças do Hip-hop, batalhas de rap e saraus, oferecem uma visão sobre o papel do hip-hop, especialmente a poesia do rap nas batalhas e nas apresentações de sarau, defendendo que os modos singulares de uso da palavra tornam-se espaços de práticas de reexistência cotidiana.

Érica Peçanha do Nascimento descreve de que maneira os saraus em São Paulo ganham corpo e peso na escrita de Saraus nas periferias: escrevendo corpos, territórios e ações coletivas na cidade, afirmando como cada vez mais estes são responsáveis pela reinscrição de corpos negros nas tantas periferias do Brasil.

Em Rimar letrando ou letrar rimando: os saraus literários da Periferia de São Paulo

como agências de letramento, Mariana Santos de Assis explicita de que forma a população negra vem ressignificando espaços de aprender desde os núcleos familiares, na rua que também é escola, nas rodas de saraus literários nas periferias.

Francisco Cesar Rodrigues (Chico César), em Slam – Ocupação e 16 Cultura política nas periferias Resistência, compartilha as estratégias engendradas por ele para potencializar a

rima e entender a poesia como uma grande escola na qual a coletividade e a felicidade podem coexistir e todas as pessoas participantes ganham e se compreendem como agentes de poesia.

No texto Slam na Escola:uma reflexão docente sobre o quanto aprender com os estudantes revela da cultura escolar a continuidade, Patrícia Cerqueira e Eula Cristina afirmam que o slam está na escola com e nos corpos negros que lá circulam, e pensam em como movimentar essa arte, desde o slam ao livro didático.

Thiago Borges, do Grupo Periferia em Movimento, em colaborações com a Agência Cresce, Casa Ecoativa, Cooperpac, Graja na Cena, Imargem e Salve Selva, evidencia quais são as formas de aprender e de ensinar que interessam aos sujeitos periféricos e como gestar a construção de uma universidade periférica, no texto UniGraja: por uma quebrada educadora autônoma.

Por fim, o Grupo PET Conexões Baixada Fluminense (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e Fernanda Felizberto fecham o livro com chave de cobre com o texto Por outros rolês nas quebradas.

Sobre o Reconexão Periferias – O projeto nasceu de uma resolução partidária do VI Congresso do PT, em 2017, contexto no qual o partido procurava se recompor dos difíceis processos de impeachment ilegal contra a presidenta Dilma Rousseff, primando pela necessidade de restabelecer uma relação virtuosa do PT com organizações da sociedade civil, movimentos sociais e as várias formas de ativismos que flores ciam e florescem nas periferias do Brasil, problematizando as contradições e injustiças contemporâneas e anunciando novos horizontes de emancipação.

Com a colaboração de muitas pessoas de todo o território nacional, foram realizados encontros, estudos e produção de conteúdo para internet, que movimentaram arenas locais e nacionais, dando vazão e proeminência ao que setem prod uzido de resistências Brasil afora.

As contribuições foram organizadas em três grandes temas: cultura, violência e trabalho, sendo o primeiro referente às manifestações e expressões simbólicas de resistência política; a violência entendida com as violações e agressões à integridade física e à vida, em especial aquelas perpetradas pelo Estado; e, o trabalho, como as formas de acesso e produção da riqueza produzidas nas periferias. Genocídio da juventude negra, o mundo do trabalho informal e o ativismo em cultura periférica foram temas privilegiados para compor o projeto, que mapeou nacionalmente organizações que atuam nas periferias.

Ficha técnica:
Livro Cultura Política das Periferias Estratégias de Reexistência
Editora Fundação Perseu Abramo, selo Reconexão Periferias

Organização:
Ana Lucia Silva Souza

Autoria:
Richard Pereira / André Luiz Moraes / Vanessa Cristina Dias de Souza / Marcelo Rocha / João Bigon / Jéssica Teixeira Eugênio / Bruna Bastos / Ana Vitória Pontes / Dandara Rocha / Erika França / Mathu Capistrano / Pietra Azevedo / Carolina Farias Moraes / Givânia Maria da Silva / Merylin Ricieli dos Santos / Ione da Silva Jovino / Janja Araújo / Maitê Freitas / Tadeu Augusto Mateus (Tadeu Kaçula) / Lílian Latties / Rosivaldo Gomes / Diléia Aparecida Martins / Edvaldo Carmo dos Santos / Joyce Cristina Souza / Wesley Nascimento Santos / Kassandra Muniz / Felipe Cortez / Felipe Matos / Laiane Souza / Lucas Martins / Raíssa Faria / Wiliam Nascimento / J. Jordânia Marçal Machado / Kakra Mene (Mikaela Gabriele) / Kwame Ankh (Thiago Brito) / Érica Peçanha do Nascimento / Mariana Santos de Assis / Francisco César Rodrigues (Chico César) / Eula Cristina da Silva / Patrícia Cerqueira dos Santos / Thiago Borges / Grupo Pet Conexões Baixada Fluminense / Fernanda Felisberto.