Como a juventude tem atravessado a pandemia? Como podem ser protegidos? A juvenilização da pandemia, com aumento do adoecimento e formas graves da Covid-19 na faixa etária de 20 a 29 anos, inclusive com morte, foi o centro do Pauta Brasil desta segunda-feira, 3 de maio. Mediado por Helena Wendel Abramo, que é socióloga, pesquisadora de temas ligados à juventude, o programa ouviu André Sobrinho, Fabiana Pinto e Alexandre Padilha.

Helena acredita que o não enfrentamento da pandemia por parte do governo Bolsonaro explica em parte o momento que vivemos e defendeu que a juventude não pode ser responsabilizada por estar tentando “manter a sua vida e de sua família”.

André Sobrinho é sociólogo, pesquisador e coordenador da Agenda Jovem Fiocruz. Ele destacou o que considera um consenso: “a pandemia exacerbou desigualdades já existentes e certamente vamos precisar cuidar disso no pós-pandemia, depois da vacinação para todos”. Para ele, a tendência de juvenilização mostra que cada vez mais jovens são afetados, a faixa de 20 a 29 anos com aumento exponencial com casos graves e óbitos. “Quando falamos juventude na mira, falamos das desigualdades, de aspectos simbólicos na sociedade de que jovens não adoecem, e a pandemia está dizendo, sim, adoecem. Mas não são só seus comportamentos que tem relevância mas as condições sociais, de acesso à renda”, disse.

“Pensar a juventude não é focar no seu comportamento é também entender a realidade dela. A pandemia traz alguns temas que tem a ver com essa condição”, não só a faixa etária, mas questões sociais, econômicas e do próprio sistema de saúde, que se preocupem com temas como saúde mental e saúde sexual para essa faixa etária. E para Sobrinho, o campo da saúde precisa encampar as novas tecnologias e linguagens.

Fabiana Pinto é graduanda em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisadora do Instituto Marielle Franco e articuladora política do Movimento Mulheres Negras Decidem. Para ela, a juventude é muito diversa e portanto a pandemia atinge de forma diferente, porque é um tema que une as questões juvenis, crise social, econômica e sanitária. E relatou também várias experiências de solidariedade e ação de jovens na comunidade no enfrentamento à pandemia.

Para ela, a dimensão do trabalho tem um peso importante na vida dos jovens, muitos deles obrigados a procurar trabalho em função do desemprego de seus pais com a pandemia. A falta de perspectiva foi apontada por Fabiana como uma consequência deste momento: “uma parcela grande da juventude perdeu a possibilidade de projetar futuro”, lamentou. “O jovem negro, da periferia, o jovem que foi apertado mais forte pela pandemia, tem se comportado com muito mais responsabilidade, e sabem do seu papel com sua família e comunidade. O jovem tem enfrentado com muita resiliência, quando o Estado se ausenta para aquela emergência, surge a coragem e muita criatividade”, disse.

Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi Ministro da Coordenação Política de Lula e da Saúde de Dilma e Secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de São Paulo.

Padilha também acredita que falamos de várias juventudes e que sua culpabilização é injusta. “É verdade que os jovens foram vistos como vetores, vistos como de menor risco mas com papel na transmissão. O tema da juventude nunca apareceu como central”, disse.

Ele defendeu que a juventude seja protagonista. “A culpabilização afasta os jovens desse protagonismo. É preciso diálogos com os jovens. Enfrentar o discurso da culpabilização e dialogar com esses valores de sobrevivência na pandemia. “A pandemia traz consigo vários impactos na saúde, econômicos e sociais, vivemos uma sindemia, que tem a ver com nossa desigualdade, que aumentou, tem a ver com a resposta do Bolsonaro, que optou por não controlar”, denunciou.

Padilha também disse estar preocupado com outros aspectos ligados à saúde, como doenças que voltam a surgir, serviços que diminuem, e que há um debate central que tem feito com o movimento sindical, que é o direito à proteção dos trabalhadores e a situação do transporte público. “Em São Paulo, o bairro onde há mais mortes é onde as pessoas passam mais tempo no transporte coletivo”, disse o parlamentar. “Não iremos superar a sindemia sem envolver as juventudes e a pandemia está fazendo surgir novas lideranças jovens”. Ele finalizou propondo encaminhar audiências públicas para ampliar o debate e lamentou que a campanha tenha sido ‘fique em casa’ e não ‘fique em uma comunidade segura’.

 

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Pauta Brasil receberá especialistas, lideranças políticas e gestores públicos para discutir os grandes temas da conjuntura política brasileira. Os debates serão realizado nas segundas, quartas e sextas-feiras, sempre às 17h, e serão transmitidos ao vivo pelo canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, sua página no Facebook e perfil no Twitter, além de um pool de imprensa formado por DCM TV, Revista Fórum, TV 247 e redes sociais do Partido dos Trabalhadores.

O novo programa substitui o Observa Br, programa que era exibido nas quartas e sextas-feiras, às 21h. Clique aqui e acesse a lista de reprodução com todos os 66 programas.