Vamos dar a despedida,

Tapera,

Taleqüal o passarinho,.

Tapera,

Bateu asa foi-se embora,

Tapera,

Deixou a pena no ninho.

Tapera…”

Mário de Andrade, in Macunaíma, obra citada por Antônio C. Santos em sua tese de doutorado.

Um assassinato brutal – brutal e covarde como são os assassinatos – na noite de 10 de setembro de 2001 matou uma vida exuberante em ideias, princípios, atitudes e realizações. Antônio da Costa Santos, Toninho do PT, foi muito mais do que o urbanista que amou a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso de Jundiaí e conheceu cada um de seus detalhes; muito mais que o arquiteto que se engajou como poucos nas lutas por moradia digna para os despossuídos; muito mais que o ambientalista adiante de seu tempo, que transformou em Área de Proteção Ambiental quase 1/3 do município. Dedicou sua vida a expor, desde suas raízes históricas, a violenta acumulação de riqueza, poder político e a exclusão social resultantes da concentração do acesso à terra que caracteriza a expansão de Campinas. Enfrentou a apropriação privada dos espaços públicos, que se prolonga do território aos “meandros da administração”, representada pela “caixa preta”, símbolo da nebulosa e fraudulenta dívida pública que colocou no centro de uma vibrante campanha eleitoral.

De tudo que foi realizado ou iniciado em seu breve mandato de 253 dias, com toda certeza o mais extraordinário foi o contagiante clima de credibilidade, de esperanças – de felicidade mesmo – que pulsou com intensidade na população da cidade, resgatando a confiança na capacidade transformadora da política. O Caderno Vermelho com as propostas para governar Campinas 2001-2004 representa um projeto radicalmente democrático e popular cujas bases programáticas carecem por serem realizadas, hoje ainda mais que ao seu tempo.

De inteligência incomum, era também dotado de humor irreverente, mas refinado e mordaz, capaz de atender em seu gabinete empresários da construção civil vestido de terno e visivelmente calçado de chuteiras porque era preciso “entrar de sola” para enfrentar os representantes da especulação imobiliária.

Tentaram nos enterrar, mas não sabiam que éramos sementes”! (Memorial da terra)

Toninho vive! Na radicalização da democracia popular que foi efetivada no Orçamento Participativo, no envolvimento da população nas decisões das prioridades e urgências. Toninho tinha como sonho e prioridade a participação do povo nas decisões de governo. Entregou na Câmara Municipal, na primeira semana de setembro, o primeiro Orçamento Público Anual, acompanhado por mais de mil pessoas. Um dos sonhos realizados que vive na memória das pessoas que participaram, confiantes no novo jeito de governar.

Apontou a recuperação dos prédios públicos e humanização da Cidade, ativando os ponteiros do relógio na Torre da Estação Ferroviária, depois Estação Cultura, celebrando os 230 anos de Campinas. Simbolicamente, é preciso que esse relógio volte a marcar as horas, marcar a história do Prefeito que, ao humanizar para garantir a vida, foi assassinado!

Toninho vive! No olhar da criança que lhe ofereceu uma pipa… Nós testemunhamos essa alegria e pureza de crianças que assinaram os céus da cidade, do alto do prédio da Prefeitura – garoto e prefeito – em voo simbólico, no dia da posse… Sinal de que o novo governo também ocuparia um lugar mais alto para ver o todo, olhando com atenção ainda maior, os que estavam mais distantes e fora de alcance das políticas públicas.

Seu assassinato não foi esclarecido até hoje, crime prestes a prescrever na justiça dos homens. Mas não há prescrição na História, nem em nossos corações. Toninho viverá na memória de todas as pessoas que lutam por uma sociedade mais humana, onde a justiça está presente e se constrói uma cultura que gera vida e solidariedade, não ódio e a vingança. Não há ou haverá homenagem a Toninho que o PT possa prestar a ele, a si próprio, à família, amigos e às cidadãs e aos cidadãos de Campinas que não seja exigir, sem trégua, a apuração dos autores do crime, mas principalmente de seus mentores e mandantes.

Militantes do PT Campinas

Movimento quem matou Toninho?