O mês de agosto registrou cerca de 68 mil focos de queimadas na floresta; número é recorde desde 2010

crédito: Valter Campanato / Agência Brasil

Nesta semana, no dia 5 de setembro, é celebrado o Dia da Amazônia. A data, instituída em 2007, tem como referência a criação da Província do Amazonas, no ano de 1850, e é utilizada como um momento de exaltação da diversidade da floresta, além de servir como alerta para a degradação do bioma. 

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, a Amazônia possui atualmente 37 municípios em situação considerada grave – que são os que registraram mais de 100 focos de incêndio em uma única semana. 

Nesse sentido, o levantamento do mês de agosto trouxe o destaque para duas cidades no Pará, que lideram o preocupante ranking: São Félix do Xingu, que registrou 1.443 focos, e Altamira, onde foram identificados 1.102 focos. Na semana passada, o governo do Pará decretou estado de emergência e proibiu o uso de fogo para o manejo em todo o território do estado.

Em outros estados que compõem o bioma, a situação também é de alerta. No Mato Grosso, em Sinop, o Parque Florestal registrou, em um único dia, 36 focos de incêndio. No total, contabilizando 68 mil focos de incêndio em agosto, os dados do instituto apontaram que o Brasil enfrenta a pior situação desde 2010, quando a soma ultrapassou 90 mil pontos. 

Com relação às ações do governo federal no combate das queimadas, o superintendente do Ibama no Amazonas, Joel Araújo, destacou a realização de uma reunião interministerial, que teve como resultado a criação de uma força-tarefa com atuação prioritária em três áreas: Novo Progresso, no sul do Pará, Porto Velho, em Rondônia, e a região sul do Amazonas, no trecho entre Humaitá e Apuí. Além disso, foi definido um aumento das brigadas, que passaram a ter 2.200 brigadistas.

“Nós precisamos entender os mecanismos climáticos, a gente precisa se antecipar aos fatos. As mudanças climáticas passaram a compor o dia a dia da sociedade, principalmente na Amazônia, sem falar no Cerrado, no Pantanal”, comenta Araújo. 

crédito: Satélite União Europeia

De acordo com previsões da MetSul Meteorologia, ainda nesta semana, está previsto que o Rio Grande do Sul deve receber, mais uma vez, a fumaça das queimadas que ocorrem na Amazônia e em outras partes da América do Sul.

O fenômeno se deve à entrada de ar mais quente no estado gaúcho com correntes de vento da região Norte; também haverá avanço para o Oceano Atlântico, com carregamento das partículas para estados do Sudeste, atingindo o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. 

Estiagem 

Além da grave situação das queimadas ilegais, que seguem em apuração pelas polícias dos estados e a Polícia Federal, o cenário atual do bioma com relação à seca preocupa ainda mais os ambientalistas. 

As previsões do Serviço Geológico Brasileiro, o SGB, para este ano apontam que todos os rios da bacia amazônica têm grandes probabilidades de ficarem abaixo dos seus mínimos históricos. Nos dois últimos anos, foram registrados períodos de estação chuvosa muito fracos e estiagens consideradas desastrosas. O rio Solimões é um dos que se destacam negativamente por conta do nível baixo em alguns trechos em municípios amazonenses. 

Além dos fatores climáticos, os desmatamentos que ocorreram em 2022 e 2023 contribuem muito para o cenário atual de destruição da região, segundo Joel Araújo. “A floresta quando queima uma vez ela fica mais propícia ao fogo nos anos seguintes, a nossa floresta é densa, úmida, então não é natural. Se você tem, por exemplo, um foco de desmatamento a borda desse local já fica mais fragilizada, mais atingida pelos raios solares e com maior potencial de inflamabilidade”, explica o superintendente do Ibama no Amazonas. –

Exploração 

Outra frente importante de atuação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o Ibama, são as operações contra garimpos ilegais. No mês de agosto, houve a apreensão de 22 dragas, mais de dois quilos de ouro, quatro quilos de mercúrio, oito rebocadores e nove antenas da Starlink (sistema de comunicação por internet). As autuações ambientais aplicadas ultrapassam R$ 6 milhões.

crédito: Ibama-AM

Os agentes atuaram nas regiões do Vale do Javari, do Alto Solimões e do Alto Rio Negro em quatro eixos principais do estado: Tabatinga, São Gabriel da Cachoeira, Tefé e Santa Isabel do Rio Negro. 

“Eu acredito muito na mudança do viés econômico. A Amazônia não foi feita para criação de gado em pasto. Nas áreas onde isso já ocorre de forma legalizada temos que ter modelos de uso do solo para pecuária que não sejam tão agressivos, mas a vocação da Amazônia é da biotecnologia, do extrativismo e do manejo florestal”, defende o representante do Ibama.