ECONOMIA NACIONAL
IPCA-15 fecha ano dentro da meta e setor externo segue se deteriorando: A inflação medida pelo IPCA-15 fechou o ano de 2014 em 6,46%, dentro do limite máximo da meta estabelecido para o IPCA. No mês de dezembro, o índice apresentou aceleração, partindo de 0,38% em novembro para 0,79%, puxado pelo aumento no preço de alimentos (de 0,56% para 0,94%) e transportes (de 0,20% para 1,59%, dado o impacto da alta dos combustíveis). No setor externo, a deterioração do saldo em transações correntes prosseguiu e se agravou no mês de novembro, que registrou o déficit recorde de US$ 9,33 bilhões, fazendo com que o déficit acumulado no ano alcance a casa dos 4,05% do PIB. Segundo o Banco Central, dezembro deve mostrar uma queda neste índice, fechando o ano com déficit em transações correntes próximo a 3,97%. O balanço de pagamentos segue superavitário em US$ 20,6 bilhões acumulados em 2014, resultado da grande entrada de capitais estrangeiros no país.
Comentário: Ambos os fronts, inflacionário e externo, são fontes de preocupação do governo brasileiro. No caso da inflação, a preocupação é mais com o curto prazo: primeiramente com o objetivo de fechar o ano dentro da meta e, em segundo lugar, com as pressões inflacionárias que existirão no primeiro trimestre de 2015, dadas as já anunciadas revisões nas tarifas elétricas, de água e transporte urbano. As medidas de contenção dos gastos do governo e aumento dos juros devem, no entanto, “resolver” o problema da inflação, mesmo que a um custo elevado para o crescimento, emprego e renda. Já no campo externo, a preocupação é de caráter mais estrutural do que conjuntural: a deterioração do saldo em transações correntes é mais uma evidência do desmanche de nosso parque industrial crescentemente importador e também da alta carga de juros sobre a dívida pública. A reversão destas duas tendências exige um conjunto de esforços que só terão efeito no médio/longo prazo, como a desvalorização do cambio real e o aumento de competitividade da indústria nacional, além da queda dos juros para patamares equivalentes aos do resto do mundo. Enquanto essas mudanças estruturais não forem realizadas, será necessário financiar os déficits em transações correntes com a entrada de capitais estrangeiros, de preferência investimentos diretos que ampliem nosso parque produtivo. Na realidade, neste caso reside um dilema: A redução dos juros poderia ajudar a desvalorizar o câmbio e reverter, no médio/longo prazo, a valorização cambial excessiva do real, garantindo maior competitividade para nossa indústria e reduzindo o déficit comercial. No entanto, são exatamente as elevadas taxas de juros que garantem a atração dos capitais externos atualmente, mesmo aqueles que vêm oficialmente para realizar investimentos diretos, mas que na realidade são empréstimos entre companhias com o objetivo de arbitrar com o diferencial de juros. Esse é apenas mais um dos dilemas que terá que ser enfrentado pela nova equipe econômica, sendo que qualquer movimento radical em uma ou outra direção pode trazer mais prejuízos do que benefícios.
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IPCA-15 9h IBGE
Transações correntes/Brasil 10h30 BC
Análise: Guilherme Mello, Economista