Contas externas apresentam sinais de melhora, tanto em comparação com os resultados no mesmo período de 2014, quanto à expectativa do mercado e do governo

Ano 3 – nº 288 – 23 de junho de 2015
 

ECONOMIA NACIONAL

Setor externo melhora e Brasil volta a ter superávit comercial no ano: O resultado das contas externas brasileiras apresentam evidentes sinais de melhora, tanto em comparação com os resultados verificados no mesmo período de 2014, quanto em relação à expectativa do mercado e do governo. Até a terceira semana de junho, a balança comercial do mês apresentava superávit de US$ 3,219 bilhões, fazendo com que o saldo comercial do ano passe para o campo positivo, registrando superávit de US$ 914 milhões. O resultado se deve principalmente à queda expressiva nas importações, que se reduziram quase 18% em comparação com a média para o mês em 2014. Os resultados melhores na balança comercial têm influenciado positivamente a balança de transações correntes, que fechou o mês de maio com um déficit de US$ 3,366 bilhões, menor do que o esperado pelo BC (US$ 5,4 bi) e menos da metade do déficit registrado no mesmo período de 2014 (US$ 7,9 bi). No acumulado do ano, o déficit em transações correntes de 2015 é de US$ 35,8 bilhões, 20% inferior ao verificado no mesmo período do ano passado, enquanto em 12 meses o valor do déficit equivale a 4,39% do PIB, menor do que os 4,53% registrados em abril. Para financiar este déficit, os Investimentos Diretos no País (IDP, nova nomenclatura para os Investimentos Estrangeiros Diretos-IED) somaram US$ 6,6 bilhões em maio, superando as expectativas das autoridades monetárias de entrada de US$ 4 bilhões. Em 12 meses, o IDP ainda se encontra abaixo do déficit em transações correntes, representando 3,89% do PIB, sendo que a diferença é financiada através da atração de capitais de curto prazo. A estimativa do BC é de que, até o final do ano, os IDPs consigam cobrir quase a totalidade do déficit em transações correntes, estimados para fechar 2015 em 4,17%.

Comentário: A melhoria das contas externas é resultado de dois fenômenos concomitantes: em primeiro lugar, a desvalorização cambial, que encarece as importações e reduz os gastos de brasileiros no exterior (a conta de viagens diminuiu seu déficit em mais de 20%); em segundo lugar, a recessão econômica também afeta negativamente as importações, fazendo com que elas se reduzam num ritmo maior do que a queda verificada nas exportações, melhorando assim o saldo comercial. A tendência de melhoria dos saldos externos, juntamente à atratividade elevada de capitais internacionais representada pelo expressivo volume de investimento direto no país, certamente criam uma perspectiva positiva para a solvência externa brasileira. Não há no horizonte um cenário de escassez de divisas, seja do ponto de vista dos fluxos (que, conforme podemos observar nos dados, estão com uma tendência de melhora), seja do ponto de vista dos estoques, onde o Brasil ainda possui um grande volume de reservas cambiais. A questão crítica, no entanto, será elaborar uma estratégia de retomada do crescimento que tenha como contrapartida um crescimento das exportações (em particular de manufaturados) e uma menor importação, substituindo insumos e produtos importados por produtos nacionais. Certamente o pré-sal terá um papel decisivo nesta estratégia, podendo representar nossa saída definitiva do cenário de escassez de divisas, que perseguiu o Brasil ao longo de sua história. Apenas desta forma conseguiremos retomar o crescimento econômico sem gerar grandes déficits comerciais e em transações correntes no futuro.
 
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