Vítima de uma invasão policial sem mandado na sexta-feira (04), no dia seguinte a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) foi palco de um significativo ato de solidariedade ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST). O evento contou com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, parlamentares e docentes da escola de diversas partes do mundo, como Tunísia, Estados Unidos, Cuba, Marrcos, Venezuela, Canadá, Palestina, Nigéria, entre outros, marcaram presença e apoio ao MST e a escola. Estava ainda presente no ato em Guararema (SP) o presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão.

Entre os parlamentares que foram condenar o ataque injustificado ao movimento social estavam o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), os deputados  Nilto Tatto ( PT-SP), Paulo Teixeira (PT-SP) e Vicentinho (PT-SP) e o vereador Eduardo Suplicy, além de dezenas de representantes de outros movimentos sociais, sindicatos, entidades estudantis e de outros partidos do campo progressista.

O ex-presidente Lula fez um discurso firme onde destacou que o mesmo movimento que articulou o golpe contra a presidenta eleita Dilma Rousseff e que o persegue no judiciário agora tenta criminalizar os movimentos sociais.

“Vim aqui para me solidarizar e para tentar discutir o que está ocorrendo no país. É hora de construir uma coisa muito forte, não um partido, mas uma unidade da esquerda”, disse ele. Ele fez um balanço dizendo que “o adversário foi mais competente. Eles fizeram tudo de forma institucional, agora é contra os trabalhadores”.

“Hoje faz 11 anos que abolimos a Alca (Aliança de Livre Comércio das Américas). Não sei dizer se hoje tudo que ocorre no Brasil é determinado dentro do país. Tem muita coisa acontecendo. Tem gente que fala em teoria da conspiração, mas esses reveses vem justamente quando o Brasil decidiu ser um protagonista internacional”, avaliou o ex-presidente.

Lula relembrou que durante o velório de Florestan Fernandes, em 1995, ele recebeu a notícia do massacre de Corumbiara, em Rondônia. “Tivemos que alugar um aviãozinho para ir lá ver o estrago que a polícia fez ao MST”. Ele também citou as inúmeras tentativas de se criar CPIs contra o movimento por parte da oposição enquanto estava na presidência.

O ex-presidente ainda aproveitou a oportunidade para elogiar a estudante Ana Júlia Ribeiro, que ficou conhecida após discursar sobre a legitimidade das ocupações estudantis na Assembleia Legislativa do Paraná. “A menina deu uma aula de política para todos nós”.

Ao finalizar sua fala, o ex-presidente Lula reiterou seu apoio ao movimento. “Contem comigo, contem com o PT, para qualquer coisa que precisarem, companheiros. A luta continua e toda a solidariedade para os sem-terra”.

O senador Lindberg falou que levou sua solidariedade ao MST e avaliou que não foi um ato isolado pois não estamos vivendo mais um estado democrático de direito. “Estamos vivendo um ato de exceção no Brasil”, afirmou.

Para ele, o golpe de 1964 foi um golpe dado pela burguesia brasileira, utilizando os militares como ferramenta, e que agora o novo golpe da mesma elite utilizou o parlamento como instrumento. “Estão utilizando muito o aparato do estado, o Ministério Público, o poder Judiciário. E não foi só o afastamento da presidenta Dilma, é a repressão violentíssima aos movimentos sociais, a perseguição ao ex-presidente Lula”, disse Lindbergh.

Segundo o senador, “é um ataque e criminalização dos movimentos sociais, como o MST. Temos uma justiça seletiva que persegue partidos de esquerda, movimentos populares. Para essa justiça, o PT é uma organização criminosa, o MST é criminoso”.

Ele citou a decisão do STF de cortar salário de servidores em greve sem julgamento e a possível liberação da terceirização que pode ocorrer em outro julgamento no dia 9 de novembro. “Mais do que um ato de solidariedade, aqui é um ato de coragem. Vamos dizer para eles que nós não vamos nos intimidar, vamos denunciar no Brasil e internacionalmente esse novo golpe contra a democracia brasileira. Vamos resistir a restauração do neoliberalismo”.

O deputado Nilto Tatto ressaltou que o golpe pelo qual passa o país possui várias facetas. “O golpe tem uma faceta que representa o projeto de entregar o patrimônio brasileiro para o capitalismo nacional e internacional, mas tem uma faceta que está nas entranhas do Estado, que vemos em setores representativos do Ministério Público, do Judiciário, da Polícia Federal quem vêm em um processo de intimidação e criminalização de personalidades do povo brasileiro e principalmente dos movimentos sociais”.

Ele afirma que essa repressão foi vista em Goiás, Minhas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul. “Há um lado do golpe que quer calar uma riqueza do povo brasileiro que foi construída desde a luta contra a ditadura: a sociedade civil organizada, seus movimentos sociais, que conseguiram garantir na constituição de 1988 uma série de direitos, que começamos a experimentar a partir da eleição de Lula”.

Tatto ainda afirmou que “o MST demonstrou que é possível ter resistência e que não teremos retrocesso nas conquistas do povo brasileiro, mas tem um desafio muito grande, colocado para todos nós da esquerda do campo popular: fazer o enfrentamento e resistência ao golpe em curso, mas principalmente atualizar nosso projeto, porque não vamos voltar ao que era em 2003, pelo contrário, o povo brasileiro conseguiu uma série de conquistas e quer seguir em frente, precisamos superar pequenas diferenças e construir um projeto que inclua cada vez mais”.

A presidenta eleita Dilma Rousseff enviou uma mensagem que foi lida em voz alta, na qual dizia que “é assustador que o retrocesso que vem ocorrendo no Brasil iniciado com o golpe mantenha o perigoso curso de construção de um estado de exceção no país. A invasão da Escola Nacional Florestan Fernandes é um precedente grave, não há porque admitir ações policiais repressivas que resultem em tiros e ameaças letais, ainda mais em uma escola. Tão pouco é aceitável que se criminalize o MST. Não vamos ficar calados diante da violência do Estado contra quem quer que seja. Não podemos aceitar viver com cenas em que policiais submetem estudantes a algemas e ao cárcere. É lamentável que a semana termine com novos assaltos aos direitos civis e a tentativa de criminalizar os movimentos sociais. O atropelo às regras ao estado de direito, com adoção de claras medidas de exceção, deve ser combatido. É uma ameaça à democracia e envergonha o país aos olhos do mundo”.

O deputado Paulo Teixeira comentou que “é inadmissível o que foi feito com o MST. É uma violência inominável. É um movimento social e o que eles fizeram é uma brutalidade. Nós não admitiremos e vamos denunciar esse caráter de um estado policial de exceção, estado fascista”.

Segundo o deputado, “pelo que ocorreu aqui e pelo caso do capitão do exército que foi infiltrado, o Estado de São Paulo entrou nessa agenda autoritária, policial e de exceção. O estado de São Paulo ofereceu o líder disso no plano nacional, que é o Alenxandre de Moraes, e agora a polícia começou a agir fora da lei. Isso é um recado: vocês cometeram essa violência, mas vão receber o povo na rua em resistência”.

Da redação da Agência PT de notícias/Foto: Roberto Parizzoti

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