Há exatos sessenta anos, num dia 29 de junho, a seleção brasileira vencia pela primeira vez uma Copa do Mundo. Com dois gols de Pelé, dois de Vavá e um de Zagallo o Brasil goleia a anfitriã Suécia e fica com a Taça Jules Rimet pela primeira vez. Jogadores se abraçam e choram ao fim da partida. O capitão Bellini levanta o troféu, entregue pelo rei Gustavo 6º.

O ano era 1958 e a seleção brasileira conquistava, pela primeira vez, a Copa do Mundo de futebol e superava o “complexo de vira-latas”. O termo, cunhado numa crônica do jornalista Nélson Rodrigues, fazia alusão ao hábito de nos julgarmos sempre inferiores. Ele escreveu em crônica publicada na revista Manchete Esportiva de 31 de maio de 1958, quando a nossa seleção se preparava para estrear nos gramados suecos:

“Por complexo de vira-latas entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Em Wembley [cidade britânica que, em 1956, viu a Inglaterra derrotar o Brasil por 4 a 2, em jogo amistoso], por que perdemos? Porque, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo. Na já citada vergonha de 1950, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: — e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: — porque Obdulio [Obdulio Varela, capitão do Uruguai] nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos”.

O Brasil goleou por 5 a 2, e Bellini, pondo fim ao complexo de vira-latas, inventou o gesto que no futuro seria repetido por todos os capitães: ergueu a taça bem alto, acima de tudo e de todos. É possível também que nosso “vira-latismo” tenha sucumbido antes, no gesto de Didi quando a Suécia abriu o marcador: serenamente, ele apanhou a bola no fundo das redes e a conduziu calmamente até o meio de campo, de cabeça erguida, como se antecipasse a vitória e dissesse, no ritmo da marchinha lançada na época: “Com brasileiro não há quem possa!”.

Naquele dia, não havia mesmo.

Com a Bossa Nova nas paradas mundiais, o Brasil do presidente Juscelino Kubitschek caminhava a passos largos para “avançar 50 anos em 5”. Com João Goulart na Presidência, em 1962, o Brasil seria novamente campeão com outra seleção inesquecível. Dois anos antes do golpe, nunca o país tinha experimentado tamanha sensação de que poderia dar certo.

Acompanhe esses e outros episódios da história brasileira no Memorial da Democracia, o museu virtual do Instituto Lula.

O Centro Sérgio Buarque de Holanda, mantido pela Fundação Perseu Abramo, dedica-se à preservação e organização do arquivo histórico do Partido dos Trabalhadores. Também produz a revista Perseu: História, Memória e Política, publicação voltada a questões da história dos trabalhadores, do PT e da esquerda brasileira e internacional. O acervo do CSBH está presente, ainda, na produção de textos jornalísticos, artigos e pesquisas acadêmicas, numa ação de fomento à pesquisa e à reflexão sobre a história do PT e suas posições.

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