A exposição “PT 30 anos, Cartazes” foi realizada pelo Centro Sérgio Buarque de Holanda (CSBH-FPA) para os 30 anos do Partido e contou com uma versão física, de 64 painéis para exposição e uma versão virtual, publicada no portal FPA. Os painéis foram expostos no 4º congresso nacional do Partido, entre os dias 18 e 20 de fevereiro de 2010 no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, em Brasília. Responsável pela exposição, Dainis Karepovs fala sobre o processo de seleção dos cartazes entre os 2.025 encontrados que fazem parte desta retrospectiva.

Em quais arquivos foi feita a pesquisa para compor a exposição?
Para a sua realização foi feita uma extensa pesquisa em arquivos, mais especificamente nos acervos do Centro de Documentação e Memória da UNESP (CEDEM) e no Arquivo Edgard Leuenroth da UNICAMP (AEL), em especial os acervos de José Dirceu e Perseu Abramo ali conservados, além, é claro, do Centro Sérgio Buarque de Holanda (CSBH-FPA) e do próprio Partido dos Trabalhadores. É importante destacar que as pesquisas limitaram-se ao Estado de São Paulo em razão do curto espaço de tempo para a realização da pesquisa e da montagem da exposição durante o IV Congresso do PT.

Quantos cartazes foram encontrados nesta pesquisa?
Os números desses levantamentos dão uma dimensão do volume do material levantado. No CSBH-FPA foram localizados 1.010 cartazes, no CEDEM 652, no AEL 212 e no PT encontramos 151, num total de 2.025 cartazes. Apesar do elevado número de cartazes localizados, nos quais encontramos repetições nos arquivos, a nossa pesquisa se deu conta de algumas ausências e por isso também tivemos de recorrer a reproduções publicadas na imprensa do partido e também a algumas iconografias clássicas na história do PT, como, por exemplo, o “oPTei”, criado pelo saudoso publicitário Carlito Maia em 1982, o que elevou em mais 250 imagens o total das imagens levantadas. Enfim, um total de 2.275 imagens selecionadas.

Qual é a importância dos cartaz político para a História?
Este sempre foi um importante elemento no campo da disputa política, especialmente utilizado pelo movimento organizado dos trabalhadores. Na forma como o conhecemos hoje, o cartaz político surgiu na Europa há mais de um século, por volta de 1870. No começo os cartazes, que eram afixados nas ruas que levavam aos locais de trabalhos, davam muita ênfase à palavra e tinham mais o aspecto de listas de palavras de ordem ou reivindicações. Com a adoção de novas técnicas, os cartazes passaram a receber desenhos e ilustrações, que eram muito detalhados e cuidadosamente feitos. Logo em seguida, passou-se a poder imprimir cartazes com mais de uma cor e, no início do século XX, com o crescente desenvolvimento das técnicas artísticas e de impressão começaram a ser empregados a fotografia, a fotomontagem e outros recursos e que acabaram chegando às composições fotográficas influenciadas pelo discurso da publicidade, isso já no final do século passado. Nessa trajetória, que vai da ilustração feita à mão do final do século XIX até as montagens de espírito fotográfico feitas cem anos depois, também é importante chamar a atenção para como a imagem ganhou predominância nos cartazes políticos, cabendo à palavra escrita um espaço cada vez menor, como uma espécie de arremate sintético das imagens. Outra característica importante nesta trajetória centenária do cartaz político é a de como as imagens de massas e grupos anônimos, bem como as de militantes desconhecidos, passaram a dar lugar às imagens e fotografias das figuras de destaque do movimento dos trabalhadores.

É curioso notar que, mesmo em uma escala de tempo bem mais sintética, esta trajetória de um século que se passa em vários pontos do planeta também se reproduz, ao longo dessas três décadas de existência do PT, no conjunto de mais de dois mil cartazes que levantamos. É claro que as diversas possibilidades técnicas disponíveis no momento de sua idealização e impressão fizeram com que estes vários tipos ocorressem simultaneamente e não numa sequência, quase que convivendo lado a lado o cartaz de texto, apenas com palavras de ordem, com o que recebia influência do discurso publicitário.

Em que consistiu o trabalho de montagem da exposição?
A primeira questão a ser resolvida foi a de qual seria o seu tamanho. Trinta anos de história de um partido político como o PT necessariamente colocam um grande número de questões, e a questão do espaço impunha logicamente limites. Assim, decidiu-se que para cada ano da existência do PT haveria dois banners. Um deles reproduziria o cartaz mais significativo daquele ano específico e no outro banner haveria uma sintética linha do tempo, dividida em três partes (dedicadas ao PT, ao Brasil e ao mundo), e seriam inseridos outros cartazes importantes, bem como a iconografia adicional, que seria visualmente separada para evitar que fosse confundida com os cartazes. Assim, com abertura, apresentação e créditos, a exposição, cobrindo os anos de 1980 a 2010, totalizaria 64 banners.

Quais foram as dificuldades encontradas na escolha dos cartazes?
O trabalho mais árduo foi o de levantar as imagens e depois, mais exaustivo ainda, o de sua seleção. Munidos de uma câmara digital, a equipe do Centro Sérgio Buarque de Holanda foi a cada um dos arquivos que mencionamos acima e registrou cada um dos cartazes do PT existentes, inclusive os do próprio Centro. Esta tarefa nos tomou cerca de duas semanas e ficamos outro par de semanas selecionando os 156 cartazes e outros 25 documentos iconográficos (como logomarcas de de encontros e congressos, ícones feitos para os aniversários do partido etc.), num total de 181 imagens, que acabaram reproduzidos na exposição.

Pode-se dizer que foram encontrados todos os cartazes feitos durante os 30 anos do Partido?
Ao se fazer o agrupamento ano a ano dos 2.025 cartazes e das 250 imagens identificados pela equipe do CSBH-FPA notamos várias coisas. A primeira foi a ausência, nos acervos pesquisados, de cartazes que a memória de militantes mais antigos nos confirmou a existência. Tais carências foram supridas com os documentos iconográficos suplementares, como cartazes que eram transformados em adesivos. Outra característica notada foi a da predominância de cartazes procedentes de São Paulo. De um lado, isto pode ser explicado pelos acervos em que pesquisamos, localizados em São Paulo, mas também pelo fato de que, sobretudo nos seus primórdios, vários diretórios estaduais “importavam” os leiautes de cartazes feitos em São Paulo – e muitas vezes até impressos na capital paulista – e que os copiavam ou os “adaptavam” à sua realidade. De qualquer modo, como somos otimistas, isto significa que esses cartazes ausentes hoje fazem parte de acervos pessoais, os quais, cedo ou tarde, serão encaminhados aos mais diversos arquivos existentes pelo Brasil, inclusive o da Fundação Perseu Abramo. Um terceiro fato observado foi um grande número de cartazes de caráter eleitoral, sobretudo de candidatos proporcionais. Uma última constatação importante foi a percepção de que ao longo desse período histórico os cartazes deixaram de ser um meio de expressão predominante na comunicação do PT com a sociedade. Nos últimos anos é notável o decréscimo na produção dos cartazes. Uma das hipóteses para isso é a de que os muros e as paredes em que os cartazes eram afixados, a par da implementação de políticas urbanas de controle da poluição visual,  foram trocados pelas telas dos computadores.

O cartaz é um meio de manifestação gráfica que foi bastante utilizado no Brasil. E a exposição "PT 30 anos – Cartazes" mostra isso. O que o expectador pode apreender da exposição?
O exame desse conjunto de milhares de cartazes e a percepção das questões acima nos permitiram ter a certeza de que seria possível, juntamente com as linhas do tempo, fazer uma sintética história do PT. Nela estariam expressas as principais lutas e bandeiras do partido e também se poderia demonstrar como o espectro de seus combates foi-se ampliando ao longo desses trinta anos, e que tomaram forma concreta na própria estrutura do PT, sobretudo através do surgimento de secretarias, setoriais etc. Mais que isso, este imenso acervo iconográfico deixava muito claro que ali estavam não apenas as ideias e as reivindicações de um partido e de seus militantes, mas de todo um país e de como, ao longo dos anos, elas evoluíram. Enfim, este talvez seja provavelmente o principal efeito dessa exposição: fazer com que os que a veem percebam que não apenas foi o PT e o Brasil que mudaram, mas também, política e socialmente, os seus visitantes e como eles contribuíram para isso.

A exposição física – 64 painéis – foi apresentada no 4º Congresso Nacional do PT, em Brasília. E agora? O que acontece com ela?
Já existem várias demandas para a exibição da exposição “PT 30 anos, Cartazes” pelo país e elas já estão sendo agendadas à medida em que são feitas, tanto por telefone (11-5571-4299, nos ramais, 124 e 125) como por meio do correio eletrônico (memória@fpabramo.org.br). Mas o que nos tem deixado mais entusiasmados é o fato de que vários Diretórios Estaduais nos têm solicitado uma cópia digital da exposição para que possam eles próprios imprimi-la e fazê-la circular nos Diretórios Municipais, num fenômeno de multiplicação que nos tem impressionado.

Por fim, mas não menos importante, é importante destacar duas questões. A primeira é a de que este é um trabalho coletivo que começou com a realização artística do cartaz, a sua impressão, passou pela sua afixação nos muros e paredes do Brasil, continuou com a sua conservação nos mais variados arquivos do Brasil e também aqui no CSBH-FPA. Assim a todos os integrantes deste imenso circuito o nosso agradecimento na confecção, preservação e difusão dessa memória. A segunda é reiterar o apelo a todos aqueles que conservam em suas casas os cartazes do PT no sentido de que, na medida de suas possibilidades, os doem às instituições que têm como objetivo preservar a memória da luta dos trabalhadores do Brasil, inclusive o CSBH-FPA. E, já de antemão, àqueles que o fizerem, gostaríamos de agradecer as doações de seus cartazes ao CSBH-FPA.