Trabalhadoras, trabalhadores e seus sindicatos têm cobrado e lutado, com protestos e paralisações, para que empresas e serviço público tomem medidas de proteção contra o coronavírus, apesar de a pandemia não deixar mais dúvidas quanto à urgência delas.

O isolamento, uma das formas de combate que é unanimidade, por exemplo, quando acontece em determinados setores, é por conta da pressão da classe trabalhadora e dos sindicatos que os representam.

Um dos casos mais emblemáticos de indiferença das grandes empresas é o do setor de call center. Na última quinta-feira, por exemplo, a Vigilância Sanitária de São Bernardo do Campo notificou a empresa Atento por “falhas em relação às medidas de contenção e combate à disseminação do novo coronavírus”. Entre os problemas relatados, estão a aglomeração de pessoas, falta de circulação de ar e ausência de produtos de higienização, conforme relato de mídia local.

Nas baias ou mesas, os atendentes dividem espaços exíguos numa atividade que representa um dos riscos mais destacados em entrevistas quase ininterruptas de especialistas: falar e espalhar saliva, meio condutor do coronavírus. A Vigilância Sanitária deu prazo de 48 horas para que a Atento faça jus ao nome e adapte as condições de trabalho às exigências que a crise impõe.

Em outros locais do Brasil, como relata o portal do coletivo Passa a Palavra, trabalhadores das empresas do setor abandonaram os postos de trabalho e chegaram a fazer protesto diante da sede das empresas de call center para cobrar providências e denunciar o descaso.

Créditos: Atento/divulgação

 

Sem direção
Em outro dos setores mais influentes da economia, a indústria automobilística, composto por multinacionais, o descaso também persiste. Três montadoras, a Honda, a Fiat Chrysler e a Renault mantêm a disposição de continuar produzindo, ao contrário de outras pares do segmento, e colocam em risco a vida de pessoas de toda a cadeia produtiva, como nas fábricas de autopeças. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que se colocou na linha de frente dessa luta, reivindica que todas as montadoras suspendam temporariamente a produção, para preservar vidas. Caso contrário, o sindicato promete greve a partir do dia 30.

O sindicato também alega que é necessária uma suspensão coordenada das atividades entre as montadoras, de forma a permitir que os fornecedores se prepararem e minimizem os danos econômicos que inevitavelmente virão.
“Acho que os empresários estão meio perdidos, porque não há comando, o governo federal não dá diretriz clara”, comenta o presidente da CUT Sérgio Nobre, metalúrgico do ABC. Neste contexto, destaca Wagner Santana, presidente do sindicato, volta a aparecer o papel negociador e mobilizador do movimento sindical, que os governos Temer e Bolsonaro negaram e que tentam destruir desde o golpe de 2016. “Nós é que demos início à pressão sobre as empresas depois do surgimento do coronavírus, sugerindo a convocação de férias coletivas”, conta.

As montadoras que têm fábricas no ABC já concordaram. As três que se recusam têm plantas industriais fora da região e da área de influência do sindicato. Porém, boa parte dos fornecedores que as atendem estão no ABC e correm risco por causa do descaso.

Desmonte da saúde pública
Mais grave é a situação da rede pública da saúde. Na linha de frente de combate ao coronavírus, a categoria denuncia a falta de materiais básicos de proteção, como luvas e máscaras eficazes, além de precariedade das instalações. Problemas que foram agravados a partir da aprovação da lei do teto dos gastos, que já retirou, somente em 2019,vinte bilhões de reais do SUS. Essa lei, por sinal, foi defendida pelo agora ministro da Saúde bolsonarista, Luiz Henrique Mandetta, que votou a favor quando era deputado federal.

Em São Paulo, como em outros locais do país, há outros problemas. A falta de concursos públicos fez elevar a idade dos servidores da saúde. Isso obriga que muitos que têm acima de 60 anos, parte do grupo de risco, estejam em contato direito com o vírus, em corredores e salas de hospitais.

“Quase 60% dos trabalhadores da saúde estadual têm mais de 50 anos e, entre eles, temos cardíacos, transplantados, trabalhadores que estão fazendo tratamento oncológico, pessoas que fazem hemodiálise e todos eles estão na linha de frente. São doentes cuidando de doentes, devido à falta de concursos públicos”, denuncia a presidenta do Sindsaúde-SP (Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo), Cleonice Ribeiro.

Como se sabe, o governador João Dória (PSDB) dispensou temporariamente do trabalho servidores acima de 60 anos, exceto os da saúde e de segurança.

“Nós não nos negamos a trabalhar, aliás, se o SUS ainda existe em São Paulo é por nossa conta, trabalhadoras e trabalhadores públicos, que ganhamos pouco, trabalhamos muito e ainda somos mal vistos. Mas mesmo assim não nos negamos a cuidar da população paulista”, completa Cleonice.