Uma rápida retrospectiva sobre tragédias ocorridas nos últimos anos mostra de forma inequívoca que a maior parte dos danos ambientais causados pelos modelos de desenvolvimento hegemônicos atuais recai em populações de baixa renda, grupos raciais historicamente marginalizados e quase sempre em situação de vulnerabilidade que vivem nas periferias. É sobre esse tema que a edição da revista Reconexão Periferias de junho, quando se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, propõe uma reflexão, de onde emerge o debate de desenvolvimento versus reenvolvimento. Pois sem reconhecer e priorizar os grupos que mais sofrem com os efeitos da degradação ambiental não é possível desenvolver políticas públicas que possam preservar a vida humana.

O artigo de Larissa Zuim e Sheila Noele Moreira, da ONG Ação Ecológica Guaporé – Ecoporé, traz algumas experiências desenvolvidas em seus 35 anos de atuação, com ações de restauração ecológica, monitoramento da biodiversidade e educação socioambiental em áreas do estado de Rondônia que sofreram intensos processos de degradação ambiental desde o início de sua ocupação territorial. “É nesses territórios ambientalmente sensíveis que se faz ainda mais necessário um trabalho intensivo com as populações mais afetadas. São mulheres e jovens da agricultura familiar, quilombolas, indígenas e comunidades de populações tradicionais que recebem não só os insumos necessários para iniciar o processo de restauração ambiental como todo o acompanhamento técnico rural necessário, junto com ações educativas, capazes de transformar a realidade dos envolvidos”.

Na entrevista, João Paulo Rodrigues, uma das lideranças nacionais do MST, fala sobre a proposta de ampliar parcerias com coletivos urbanos para a construção de milhares de hortas comunitárias nas cidades, que vão produzir alimentos saudáveis, sem veneno, e gerar oportunidades de renda. Como aconteceu durante a pandemia, quando centenas de cozinhas solidárias do MST distribuíram milhões de refeições gratuitamente, essa será mais uma ação que vai amealhar simpatia de mais e mais pessoas.


O perfil do Instituto Madeira Vivo (IMV) conta a história de um coletivo que oferece para comunidades tradicionais assessoria voltada a projetos de energia renovável, auxílio na produção de documentos para denunciar violações de direitos, educomunicação popular, formação de lideranças, mobilizações em defesa das águas da Amazônia, além de utilizar a arte-educação para afirmar a identidade local, apresentando cantos e danças com referência na cultura indígena. Como explica o coordenador do IMV, Iremar Ferreira, as organizações sociais da região vêm trabalhando principalmente a pauta da agroecologia e da água, em busca de alternativas, com projetos que utilizem principalmente energia solar fotovoltaica para captação de água potável, liberação de água e também iluminação de espaços coletivos.

“Atuamos de maneira a buscar essa sustentabilidade que nós tanto almejamos. Principalmente com iniciativas de envolvimento, porque nós cansamos de ouvir projetos de desenvolvimento e o resultado deles é de retirar a gente do nosso lugar. Então, nesse tipo de projeto de desenvolvimento a gente não acredita mais, porque só trouxe problemas”, afirma.


A edição registra também a agenda organizada pela Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas e pela Conectas, apoiada pelos projeto Reconexão Periferias, na qual diferentes movimentos sociais protagonizados por mães e familiares de vítimas da violência de Estado estiveram em Brasília nos dias 31 de maio e 1 de junho.

Na seção de Arte, a artista plástica Arissana Pataxó, entrevistada pela equipe da revista, conta que desenvolve uma poética sobre povos indígenas e a contemporaneidade utilizando diversas técnicas que possibilitam o seu trabalho, da pintura à fotografia. Natural de Porto Seguro (BA), retrata em suas obras a resistência indígena e toda a beleza de seu povo.