Um dos mais aguerridos políticos da geração pós-ditadura fala sobre a conjuntura política, aponta a tragédia que o estado vive por conta da violência e defende uma política de integração entre governo e sociedade para tirar o cartão-postal do país do século 16. “O Rio ainda vive no Brasil-colônia”, denuncia

 

 

O deputado federal Marcelo Freixo (PSB) é candidato a governador do Rio de Janeiro em uma aliança que inclui toda a esquerda, com exceção do PDT, que tem candidato próprio e ficou de fora. A polarização que marca a eleição presidencial também é forte no estado. O Rio é o berço político do presidente da República e de dois dos seus filhos. “Aqui, precisamos resolver questões que vêm do Brasil-colônia”, aponta.

O tema pelo qual o Rio mais costuma estar no noticiário é a violência. A questão é considerada fundamental pelo parlamentar, que estuda o avanço da violência policial e do crime organizado no estado há quase 20 anos.

Em 2008, ele presidiu a CPI das Milícias na Assembleia Estadual e chegou a viver exilado na Espanha por um curto período em função de ameaças que sofreu durante o processo de investigação. “O estado foi governado de uma maneira trágica nos últimos anos”, lamenta. “Diversos governos que geraram uma possibilidade de ausência da ordem da lei para uma quantidade muito grande da população”.

Essa desorganização completa fez crescer o crime organizado. O domínio do território por esses grupos foi o que causou a execução da então vereadora Marielle Franco (Psol) e do seu motorista Anderson Gomes. Ela foi aluna de Freixo e uma parceira política. Durante a entrevista, ele mencionou que 80% dos botijões de gás vendidos no Rio são comercializados pela milícia ou o tráfico de drogas.

O enfrentamento deste problema tão profundo não depende apenas de ações policiais. Integrar os serviços públicos é uma ferramenta fundamental para “disputar a vida dos jovens, a vida das mulheres”. O investimento em educação e a transformação do sistema educacional também é uma tarefa primordial. E critica a situação precária da saúde e disse como pretende restaurar e melhorar o sistema. Leia trechos da entrevista:

 

Focus Brasil — Pesquisas mostram que o cenário eleitoral no Rio  é desafiador. O conservadorismo é mais forte no estado? E como dialogar com os setores conservadores?

Marcelo Freixo — Esta é uma eleição polarizada nacionalmente e regionalmente. O Rio de Janeiro, talvez, seja a praça mais polarizada de todas por algumas razões. Primeiro, porque o Bolsonaro é daqui e a polarização nacional tem reflexo direto com o lugar de onde ele vem. Bolsonaro tem aqui todos os seus mandatos e os dos seus filhos. Quer dizer, não é uma referência de ocasião. Ao mesmo tempo, ele representa algo, assim como o Cláudio Castro – seu candidato ao governo – que é uma sociedade miliciana onde a arma, o território, a ilegalidade, a força, o poder “na mão” de homens, é muito forte. É um projeto de Brasil que tem no governo do Rio um representante muito forte com as forças políticas e o mesmo partido do presidente. Então, há uma polarização da extrema-direita muito expressa no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, como adversário, sempre fui oposição forte ao Bolsonaro antes de ele ser presidente. E a gente consegue reunir conosco uma aliança inédita de toda a esquerda. Tirando o PDT, toda a esquerda está junta, coisa que nunca aconteceu no Rio.

Esses fatores determinam uma eleição muito polarizada. De um lado, a própria expressão bolsonarista com um representante do governo do estado e, por outro lado, a esquerda unida contra o Bolsonaro e que é o palanque do Lula. Isso, inevitavelmente, faz do Rio um dos lugares mais emblemáticos dessa polarização que será nacional. Agora, acho que a ideia de se é conservador… O Brasil é um país conservador e não é o Bolsonaro que faz o país ser conservador. O problema é que o Bolsonaro não representa o conservadorismo, ele representa o retrocesso. Bolsonaro não conserva, ele retroage. Tem conservadores que não se sentem representados por ele. A gente precisa entender. O Brasil-colônia, quando ele foi… Aí eu falo de uma coisa que eu sempre refleti muito como professor de História. Quando o Brasil foi colonizado, tinha três sentidos de colonização e quem desenvolveu isso foi o professor Ilmar Mattos, que foi da UFF e hoje é da PUC-RJ. Ele diz que existiu o sentido militar, o religioso e o mercantil na formação da sociedade. Você tem no sentido mercantil a busca pela riqueza. No religioso, a busca por uma formação de domínio religioso e de uma sociedade religiosa que diz respeito a uma ação jesuíta. E tem o sentido militar, que é o da conquista.

Esses sentidos deixaram raízes muito profundas, principalmente, a relação entre o sentido militar e o religioso, na formação da nossa sociedade. E muitas dessas coisas a República não resolveu. Quando a gente fala de ter um projeto republicano, hoje, para o Rio, é resolver questões coloniais. São questões pré-Império que a República não resolveu. Entre elas, a própria escravidão e a ideia de “justiçamento”, a ideia de castigo… Isso é muito forte na cultura brasileira e no Rio. Esta eleição talvez seja a mais importante para o Brasil porque é um plebiscito sobre a Constituição de 1988, se ela vai continuar existindo ou não. E é a eleição mais importante da história do Rio porque é a grande chance do estado ter outra governança que não é essa enraizada nessa visão colonial.

 

— As pesquisas sobre o Rio de Janeiro mostram que quando o eleitor é instado a falar sobre a eleição nacional, aponta o desemprego, miséria, fome, ausência de oportunidade. Daí a liderança do Lula. Mas o estado do Rio tem problemas maiores.

— Quando a população é consultada, o tema do custo de vida aparece muito fortemente. Não existe um brasileiro do estado e um brasileiro do país. Todo mundo mora na cidade. E o Rio é um dos lugares mais caros, hoje. A cesta básica mais cara do mês de janeiro é a do Rio. O desemprego cresceu 11% no Brasil. E, no Rio, 14%. Perdemos 700 mil postos de emprego. O Rio é a segunda economia e era o 18º estado em arrecadação, agora melhorou um pouco por causa do petróleo, mas é uma vergonha. O Rio teve 18% do seu PIB na indústria nos anos 2000. E hoje é 6%. O Rio se desindustrializou completamente. Quando a gente fala de uma crise política, isso tem desdobramento social, desdobramento econômico muito profundo na população. Essa população sente isso. Acho que a gente tem que trabalhar isso como tema central: o tema do emprego, da renda, do trabalho, a questão do empreendedor. Por exemplo, a região dos Lagos tem 66 mil empreendedores e a Baixada Fluminense, 135 mil. É um número enorme de pessoas que não estão querendo uma carteira assinada, querem tocar seu negócio. Você também tem que conseguir desenvolver casas do empreendedor para facilitar um sistema de crédito popular para que o negócio que gera emprego, circulação de dinheiro e de consumo, possa existir no Rio. Este é um tema central.

 

— Há muita precariedade.

— Quando você olha para a situação da saúde, é impressionante. O Rio, que é o produtor de 80% do petróleo, é também o campeão em mortes por tuberculose. Tuberculose! Estamos falando de uma doença que matava no século 19. E estamos no século 21. O Rio é o campeão em mortes por tuberculose. A Rocinha é um dos principais focos da doença, no coração do IPTU mais caro do Brasil, que é São Conrado. O Rio é o campeão no Sudeste em mortalidade infantil. Os indicadores de hipertensão e diabetes são altíssimos no Rio de Janeiro. Estamos falando de um nível de precariedade muito profundo na saúde. Morrer de tuberculose em pleno século 21 é muito grave. O governador tinha que começar qualquer fala pedindo desculpas. Agora, por que a segurança toma o lugar de uma forma tão absoluta mesmo com esses números que a gente está aqui trabalhando? Porque o Rio tem uma situação inusitada. O estado foi governado de uma maneira trágica nos últimos anos, diversos governos que geraram uma possibilidade de ausência da ordem da lei para uma quantidade muito grande da população.

 

— O crime organizado ocupou o papel do Estado?

— Sim. Saiu uma matéria recente no Globo dizendo que 80% das vendas de botijão de gás são feitas pela milícia ou pelo tráfico. Isso ilustra muito o que foi dito na pergunta. Evidente que o tema da segurança é muito decisivo e aí são vários elementos que a gente tem que trabalhar. Não tem uma fórmula mágica para resolver tudo isso e nem vamos resolver em quatro anos, é preciso ser muito honesto sobre isso. Agora, você tem que modernizar a polícia. É preciso equipar a polícia, formar policiais, trabalhar com plano de metas. Se a meta é a redução de homicídios, de roubo de carga… O policial tem que ser valorizado a partir da obtenção de resultados em metas planejadas. E aí falta um planejamento baseado em segurança pública mais eficiente que é o que precisamos ter. Isso é possível. Estou há mais de um ano conversando com diversos setores da polícia, setores sérios que sabem o que fazer. O uso da tecnologia é um aliado da eficiência policial.

Eu recebi uma prefeita de uma cidade importante do México, que tem 2 milhões de habitantes, uma área dominada por gangues e com indicadores de violência muito semelhantes aos do Rio de Janeiro. E ela me apresentou um projeto baseado na experiência de Medellín, na Colômbia, mas com resultados melhores. São grandes investimentos de ocupação de território com projeto social, educacional, projeto para mulheres, junto com as igrejas. Um grande investimento social. E o custo é muito mais barato do que o Rio está gastando com outras coisas. Se você pega um lugar e ao invés de você fazer uma guerra e matar 20 e no dia seguinte a situação ser igual, você faz um investimento, chama as escolas, as igrejas, faz um movimento de primeiro emprego, de escolas técnicas, um lugar que tenha atividade cultural, esportiva, que você integre essa juventude, que ocupe esse território, que ofereça alternativa e faça girar a economia, você tem resultados de aprendizagem e de redução de violência que são muito eficazes.

 

— E como fazer o combate ao tráfico de armas?

— Eu fui presidente da CPI que investigou tráfico de armas e o tráfico de drogas. Uma parte considerável das armas que hoje está na mão do crime tem uma origem legal e, no meio do caminho, por falta de fiscalização, vão para a mão do crime. A Polícia Rodoviária Federal – que hoje é assunto em qualquer roda de conversa sobre segurança pública – a Marinha e a Polícia Federal são instituições muito importantes no combate ao tráfico de armas e munição nas estradas, na Baía de Guanabara, para não permitir que cheguem onde estão chegando.

 

— Parte da resolução dos problemas passa por uma integração da sociedade e do Estado?

— Exatamente. Primeiro, você tem que ter um planejamento de integração. Hoje, não tem a assistência social conversando com a educação, que não conversa com a segurança pública… As polícias militar e civil não agem integradas, nem as polícias agem integradas, o que dirá a Assistência Social, Educação… Você não tem nenhuma integração. Quando fala em território, a gente pensa na favela, em crime, violência e polícia. Isso já é um vício da própria esquerda, a própria esquerda cai nisso. Não consegue olhar para a favela e falar da cultura, emprego, moeda social, economia solidária… É claro que ali tem crime, mas é menos de 1% da população envolvida com tráfico ou a milícia. Então, “Ah, você vai acabar com o tráfico, vai acabar com a milícia?”. Não, nós vamos enfrentá-los com inteligência, resultado e metas. Vamos disputar a vida desses jovens, mulheres, esse lugar, com projeto de integração do serviço público. A gente está falando de serviço público, de atendimento ao povo. Isso tem muito mais eficácia.

Vou dar um exemplo, eu sou professor de História, tive um sonho na minha vida que era ser professor. Realizei. Vim de uma família muito pobre, meu pai foi camelô com 8 anos e padeiro com 12. Minha mãe era secretária de colégio público. Depois, meu pai que só sabia escrever o nome virou inspetor de colégio. Eu sou filho da escola pública. Eu tive o sonho de ser professor e realizei esse sonho. Quando a gente fala isso, a gente está falando que um pai como o meu, que é uma figura simples, não pode perder o direito do futuro do filho. Quando falamos de investimento integrado, todas as ações sociais disputando esse território, estamos dando a essa família o direito ao sonho, o direito do filho dele ter um investimento que vai sonhar. A educação passa por uma crise das mais graves da nossa história. Passamos dois anos com uma parte considerável dos nossos alunos não aprendendo nada. Nada. Eram duas horas de aula por dia durante 20 meses. Sendo que eram por internet e boa parte dos alunos não tem internet. Estamos há dois anos sem ensinar nada para uma geração inteira. Temos um déficit de aprendizagem que vai comprometer a renda em aproximadamente 10% daqui a alguns anos. Isso vai gerar uma crise sem precedentes.

A gente tem que ter uma revolução de aprendizagem. Precisamos de um projeto de educação dos mais ousados. Isso vai ter que estar integrado a outras áreas. Teremos que chamar as universidades e falar assim: “Vamos lá, quem é estudante de Pedagogia, Matemática, História e Geografia? Vamos fazer uma residência pedagógica. Vocês vão estar na escola antes, vamos fazer no contraturno a famosa ação dos explicadores, das aulas de reforço”.  Vamos recuperar o aluno que a gente perdeu, recuperar uma aprendizagem que estamos há 20 meses sem fazer. Isso tem que estar integrado a um lugar onde ele possa ter esporte, a mãe saiba que ele está num lugar seguro. E isso é dentro do território. Isso é disputar essas famílias. Precisa de muita coisa.

 

— O senhor pretende abrir um diálogo com as igrejas para que participem da retomada dos territórios do Rio de Janeiro?

— Muito. Isso é decisivo. A gente tem um avanço das igrejas evangélicas que é muito forte. Elas estão em tudo quanto é lugar. Ao contrário da Igreja Católica, a evangélica vai até você. Não é você que vai na igreja. Ela é muito presente no sentido da busca. Qualquer lugar que você vá tem uma igreja evangélica e são várias. A igreja evangélica trabalha com uma coisa que eu acho que a gente precisa entender que é a materialização da conquista. Sempre dou esse exemplo: geralmente, é a mulher que entra na igreja e ela começa a falar, começa ter direito à voz, começa a ser respeitada. Ela leva o filho e as notas dele na escola melhoram. Ela leva o marido. Quando ele vai – isso não é uma regra, mas acontece bastante – para de beber. E, ao parar de beber, ele para de bater na mulher, para de gastar dinheiro com coisas que a família acha que não deveria. Sobra dinheiro para sair com os filhos, para o lazer, investe na casa… A vida, concretamente, melhora. A vida efetivamente melhora. Não há dúvida sobre isso. A gente precisa entender que não é só discurso. Não é fuga, é conquista, é realidade. A gente precisa saber que isso tem eficácia. Então, chamar as igrejas, e aí tem que ter uma capacidade de discutir com todas, o que, aliás, é uma grande ferramenta de enfrentamento à intolerância religiosa quando o Estado puder trabalhar com todas. Esse é um bom caminho para a gente no Rio.

 

— O senhor falou um pouco sobre as condições da saúde pública, como é que se recupera o sistema no Rio? Por onde começar e qual é a meta?

— Eu consegui reunir no grupo da saúde pública cabeças extraordinárias além de uma quantidade enorme de profissionais da base, enfermeiros, técnicos, auxiliares e médicos, a gente tem o [Gomes] Temporão [ex-ministro da Saúde] organizando nosso programa, temos a Lígia Bahia, a Margareth Dalcolmo… Temos uma quantidade de gente muito séria. A primeira coisa é blindar politicamente a Secretaria de Saúde. Se você olhar os governadores presos, todos foram acompanhados dos seus secretários de Saúde. Isso não é à toa. Blindar a Secretaria de Saúde, fazer com que ela possa ter política pública sem a interferência de determinados setores, é um passo importante. O governador precisa ser um grande articulador da rede de saúde nacional e municipal. Não é o presidente, nem o prefeito. Quem pode ser um grande articulador da rede de saúde para que a saúde funcione dentro de uma rede é o governador.

O Rio tem uma particularidade que é a grande quantidade de hospitais federais. Então, muitos leitos são do governo federal. Eu não tenho dúvida de que o Lula vai permitir que o governo do Rio possa administrar os leitos desses hospitais dentro de um plano de ação de saúde que seja estadual, porque os leitos estão aqui. Esses leitos, à disposição do governo do estado, num plano de saúde que possa ter a ação preventiva dos municípios, o atendimento com a ampliação dos leitos, uma secretaria blindada e uma articulação de atendimento que possa ser em rede, melhora demais a situação da saúde. E gastar o que tem que ser gasto em saúde. A gente viu o governo do Rio de Janeiro, na hora de justificar o orçamento de gastos de 12% da receita, colocando gastos com a despoluição da Baía de Guanabara para dizer que gastou 12% da saúde. É uma vergonha. Não consegue gastar nem o mínimo constitucional. Saúde é investimento.

 

– O Rio de Janeiro pode sediar um complexo industrial da saúde a partir da Fiocruz/Bio-Manguinhos. O senhor acha possível que esse complexo possa se fortalecer a partir de uma parceria estado e União?

— Claro que sim. Esse projeto, eu já conversei muito com o [Carlos Augusto Grabois] Gadelha, que é um dos principais articuladores e ideólogos do complexo industrial de saúde. Primeiro que é uma medida de desenvolvimento do Rio de Janeiro, geradora de emprego e de economia, porque produzirá uma série de medicamentos que hoje são comprados a um custo maior. O Rio tem capacidade e, mais do que isso, o projeto é para o bairro de Santa Cruz. Estamos falando em investimento na Zona Oeste, uma área muito deteriorada e atingida pelo desemprego. O governo federal será decisivo para que a gente tenha esse investimento. Eu defendo isso.

 

— E os democratas declarando apoio a Lula?

— Lula vai cumprir, talvez, a grande missão da sua vida. Quem diria que depois de tanta coisa que ele já fez e viveu, depois de uma prisão arbitrária como aquela, Lula fosse se colocar diante da eleição mais importante da história da democracia brasileira. Eu falo que é a mais importante porque pode ser a última. Se o Bolsonaro vencer essa eleição, a gente pode ter o fechamento de um… O Bolsonaro, hoje, não tem força para dar um golpe, mas ele ganhando a eleição, o golpe está dado porque ele está legitimado a governar de forma autoritária, sem nenhum respeito às instituições e sem cumprir a Constituição de 1988 como já vem fazendo. Então, esta eleição é a mais importante das nossas vidas. A gente tem a chance de reeleger Lula presidente do Brasil com uma enorme capacidade que ele tem, mais do que qualquer um de nós, e articular um grande governo de participação ampla e democrática no Brasil. Não é uma eleição entre direita e esquerda. É uma eleição entre a extrema-direita e o campo democrático. É uma eleição entre civilização e barbárie. É uma eleição entre o século 21 e o século 16.

 

— E o imbróglio entre PT e PSB? O PT apoia a indicação do André Ceciliano para o Senado. O senhor tem muita força na capital, ele viria costurando pela Baixada e o Lula fazendo a liga na via popular. Acha possível a vitória dessas três pontas?

— Acho que sim. O que aconteceu em 2018 não se repete. Foi uma anomalia. A eleição do [Wilson] Witzel e a própria eleição do Bolsonaro, a forma com que aconteceu… Faltando duas semanas ninguém achava que o Witzel fosse uma figura com algum tipo de representatividade. Eu acho que 2018 foi um fenômeno que dialogava com 2013, enfim… Isso não quer dizer que a gente tenha uma eleição marcada pelo campo democrático, marcada pelas regras… Também não teremos. Eu não tenho a menor dúvida de que o Bolsonaro não vai cumprir o rito democrático. Já está questionando urna eletrônica, já disse que aqui vai ser pior do que o que aconteceu nos EUA no Capitólio, já ameaçou o Supremo… Todos os ingredientes do bolo estão colocados. Não vai surgir algo diferente. Os indicativos já são de arbitrariedade, gestos antidemocráticos. O que nos cabe é uma aliança sólida com programa, com capacidade de dialogar com o povo para derrotar o Bolsonaro na eleição e enfrentar o bolsonarismo depois, no governo. Vamos derrotar Bolsonaro no 2 de outubro, mas vamos conviver com o bolsonarismo.

 

— Uma força como o trumpismo…

— Mas o que vai derrotar o bolsonarismo vai ser o governo Lula. Um governo bem sucedido, de conquistas reais, amplie a democracia, garanta direitos… É este governo que vai derrotar o bolsonarismo. E nesse sentido, Lula tem muita razão quando diz: “Quero ganhar a eleição ganhando Rio, São Paulo e Nordeste, porque eu nunca governei assim”. Se nós ganharmos no Rio, em São Paulo e no Nordeste, a gente tem outro país. Lula vai ter muita dificuldade no Congresso por conta do orçamento secreto e do que vai sobrar deste ano para o ano que vem. Por mais que a gente se empenhe muito em eleger senador, deputados federais e deputados estaduais, sabemos a dificuldade que vamos enfrentar. Não é provável que tenhamos maioria no Parlamento. Os governos serão decisivos para dar estabilidade ao governo Lula. Então, ganhar no Sudeste se tornou importante até para equilibrar o que acontece entre Sul e Nordeste. Estes mapas brasileiros, no que diz respeito aos governos, são decisivos para a estabilidade do governo Lula e para o enfrentamento do bolsonarismo.

A gente ainda tem uma questão aberta no Rio de Janeiro e em outros lugares. Tivemos uma reunião entre a direção do PT e a do PSB. Temos São Paulo para resolver, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco mais encaminhado… Temos Espírito Santo, Paraíba, Rio Grande do Norte. A escolha do Alckmin ajuda muito Lula dentro do PSB. Eu sei que nem todos se sentem à vontade com isso, mas é a ampliação fundamental para a governança. Lula e Alckmin jamais estariam juntos em tempos normais. “Ah, mas o Lula não é o mesmo ou o Alckmin não é o mesmo”. Não, eles são os mesmos. O que não é o mesmo é o Brasil. A mudança não está neles, a mudança está no país que faz com que eles tenham que estar juntos e que uma ampla maioria de nós entenda isso e concorde com isso.

A vaga do Senado do Rio de Janeiro, eu defendo que tenhamos candidato único. Se tivermos dois candidatos, a tendência é que a gente não ganhe a eleição do Senado porque vamos nos dividir. E a gente tem que ganhar a eleição para o Senado. Tem que ser um candidato que viabilize a aliança. A aliança é mais importante do que qualquer nome, inclusive o meu. Ter uma aliança é a coisa mais importante. •