Integrante da Ação Libertadora Nacional (ALN), Clara foi perseguida pelo regime militar e atuou na Secretaria Nacional de Mulheres do PT


Morre Clara Charf, feminista incansável que dedicou a vida à defesa dos direitos humanos
Foto: Arquivo Pessoal

Morreu aos 100 anos, em 3 de novembro, a ativista brasileira e militante feminista do Partido dos Trabalhadores (PT) Clara Charf, viúva de Carlos Marighella. Nascida em 17 de julho de 1925, ela dedicou sua vida à justiça social, ao enfrentamento do fascismo e à defesa dos direitos humanos.

Integrante da Ação Libertadora Nacional (ALN), Clara foi perseguida pelo regime militar e, após o assassinato de Marighella, em 1969, precisou exilar-se em Cuba, onde permaneceu por dez anos sob identidade falsa, trabalhando como tradutora. Com a Lei da Anistia, retornou ao Brasil em 1979 e ajudou a construir o PT.

Feminista incansável, Clara atuou na Secretaria Nacional de Mulheres do PT, integrou o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e presidiu a organização Mulheres pela Paz, fundada por ela em 2003 — referência na luta contra a violência de gênero e na promoção do protagonismo feminino. Em 1982, foi candidata a deputada federal pelo partido.

Homenagens

Em sua conta no X, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rendeu homenagem a Clara Charf, militante filiada ao PT, mais conhecida por ser viúva de Carlos Marighella. Clara tinha 100 anos de idade.  

“Clara Charf nos deixou hoje, aos 100 anos de idade. Com seu falecimento, o Brasil perde uma mulher extraordinária. E eu perco uma companheira de muitas caminhadas. Corajosa, generosa, combativa e de grande maturidade política, Clara viveu o exílio, enfrentou a ditadura e defendeu incessantemente a democracia. Atravessou seu século de vida com uma flexibilidade bonita de quem sabia compreender o novo sem abandonar seus princípios, de quem olhava o mundo com lucidez e coração aberto. Convivi com a Clara por mais de 40 anos. Aprendi muito com ela sobre política, solidariedade, resistência e humanidade. E hoje me despeço dela com carinho, respeito e gratidão a essa grande brasileira que tanto fez pelo nosso país e por todos nós que tivemos a sorte de tê-la por perto.”

A diretoria executiva da Fundação Perseu Abramo (FPA) publicou nota de pesar na qual destaca que Clara “foi um exemplo de dedicação ímpar, contribuindo com sua experiência de lutas e dedicação aos deserdados e ofendidos da sociedade”.

O Partido dos Trabalhadores afirmou em nota que “Clara Charf parte, mas deixa um legado que jamais será apagado. Sua trajetória continuará a inspirar gerações de militantes, mulheres e jovens. Nossa solidariedade aos familiares, amigas, companheiras e companheiros de caminhada.”

Quem foi Clara Charf

Nascida em Maceió em 1925, filha de imigrantes judeus russos, Clara Charf ingressou na militância aos 16 anos e se filiou ao Partido Comunista Brasileiro em 1946, ano em que conheceu Carlos Marighella. 

Perseguida pela ditadura, foi presa e, após o assassinato do marido, exilou-se por dez anos em Cuba. De volta ao Brasil com a anistia de 1979, participou da fundação do PT e se tornou uma das principais vozes feministas do país, criando o movimento Mulheres pela Paz e coordenando a campanha brasileira das “Mil Mulheres ao Nobel da Paz”, em 2005.