Portugal: maioria socialista
Para surpresa de muitos analistas, inclusive dos institutos de pesquisa, o voto útil garante vitória folgada aos socialistas, mas ultradireita cresce. Lula parabeniza premiê Antonio Costa
Os institutos de pesquisa previam disputa acirrada entre o Partido Socialista de Portugal e o Partido Social Democrata, mas uma onda cor de rosa varreu Portugal na última hora. Contrariando as pesquisas de intenção de voto da reta final da campanha, os socialistas conseguiram uma expressiva vitória e garantiu maioria absoluta nas eleições legislativas do domingo, 30.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou a vitória do PS sob a liderança do primeiro-ministro Antônio Costa. “Quero parabenizar o Partido Socialista e o primeiro-ministro pela grande vitória nas eleições em Portugal. Toda a sorte na continuidade do trabalho que tem feito na nossa nação irmã portuguesa”, escreveu nas redes sociais.
A vitória do PS surpreendeu especialistas, que atribuem o resultado ao chamado voto útil dos eleitores de esquerda. A concentração de votos no PS foi proporcional à redução de cadeiras de partidos menores mais à esquerda. Antigos parceiros dos socialistas na geringonça, a coalizão formada em 2015, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português contarão com menos da metade dos deputados que tinham na legislatura anterior.
As pesquisas divulgadas na semana das eleições, que sinalizavam empate técnico entre socialistas e o maior partido da oposição, o PSD (Partido Social-Democrata), de centro-direita, são apontadas como um dos grandes catalisadores do voto útil.
“A possibilidade de uma maioria de direita foi provavelmente algo artificial, construída com base em sondagens que surgiram na última semana de campanha. No fim, ajudou a mobilizar o voto útil para os socialistas”, avalia o professor Francisco Pereira Coutinho, da Universidade Nova de Lisboa.
A surpreendente derrota do PS nas eleições municipais em Lisboa, há quatro meses, pode ter pesado na ponderação. Na ocasião, embora todas as sondagens indicassem vitória confortável do prefeito Fernando Medina, a centro-direita acabou tirando a capital das mãos da esquerda pela primeira vez em 14 anos, elegendo Carlos Moedas, do PSD. Parte do eleitorado de esquerda não compareceu às urnas, já que o voto não é obrigatório no país. O pleito então teve recorde de abstenção. Agora foi diferente.
Agora que detém pelo menos 117 dos 230 cadeiras do parlamento, o PS não precisará dos outros partidos para impor sua agenda legislativa. O PSD conquistou 71 cadeiras. A ultradireita representada pelo Chega fez 12 deputados. E a Iniciativa Liberal, de direita, fez oito. O Bloco de Esquerda elegeu cinco deputados.
“Por vezes, quando há uma dinâmica de a partida já ter um vencedor esperado, parte do eleitorado tende a se desmobilizar. Pode-se interpretar que tenha sido o caso entre eleitores do PS, pressupondo que Medina já estava reeleito”, diz a cientista política Paula Espírito Santo, professora do Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, em entrevista à Folha.
Em outubro, o Bloco de Esquerda e os comunistas votaram com a direita para rechaçar o Orçamento apresentado pelo governo liderado pelo ministro Antonio Costa para 2022. Por conta disso, o presidente Marcelo de Sousa optou por dissolver o Parlamento.
Costa responsabilizou os ex-aliados e insistiu que só uma maioria socialista reforçada traria estabilidade ao país. Os ex-parceiros de governo acusaram o premiê de ter provocado a antecipação do pleito mirando justamente a maioria absoluta.
No discurso da vitória, porém, o premiê afirmou que pretende manter o diálogo. “Uma maioria absoluta não é poder absoluto, não é governar sozinho”, afirmou. “Essa maioria será uma maioria de diálogo, com todos que representam os portugueses na sua pluralidade”. Costa disse que só não vai se encontrar com representantes da ultradireita, que deve se tornar a terceira força no Parlamento. •