De volta ao velho modelo
O PIB recupera perdas de 2020, mas a perspectiva é de estagnação ao longo deste ano. Os efeitos inflacionários da guerra entre Rússia e Ucrânia tendem a agravar o cenário
O IBGE divulgou em março os resultados das contas nacionais de 2021, quando o PIB brasileiro cresceu 4,6%, recuperando-se da queda de 3,9% do ano anterior. No entanto, caso a análise seja feita a partir do PIB per capita, o cenário se inverte. A alta de 3,9% em 2021 não foi capaz de compensar a queda de 4,6% registrada em 2020. Tal resultado já era esperado por boa parte dos analistas, que em média previam alta de 4,5%. Mas os dados ficaram abaixo das expectativas do governo, que esperava crescimento acima de 5%.
O resultado do quarto trimestre veio no teto das estimativas, puxado por um aumento mais forte no setor de serviços — pela ótica da oferta — e pelo consumo das famílias — pela percepção da demanda. O crescimento do setor de serviços no último trimestre em relação ao anterior foi de 0,5%, totalizando um aumento de 4,7% no ano, recuperando as perdas de 4,3% registradas em 2020.
Já o consumo das famílias surpreendeu ao apresentar um crescimento de 0,7% em relação ao trimestre anterior, totalizando alta de 3,6% em 2021. Outro destaque positivo foi a recuperação dos investimentos (FBKF), que teve alta de 17,2% no ano, após queda de 0,5% em 2020.
O destaque negativo segue sendo a indústria, que apresentou queda de 1,2% em relação ao trimestre anterior, registrando a terceira queda consecutiva do setor. No acumulado do ano, o crescimento da indústria foi de 4,5%, mas mesmo assim o setor se mantém abaixo dos níveis pré-pandemia.
Se o resultado de 2021 foi suficiente para recuperar as perdas de 2020, as expectativas para 2022 seguem sendo de estagnação econômica, com riscos recessivos consideráveis. O “carregamento estatístico” para o atual ano que resultará da taxa de crescimento do PIB em 2021 é de apenas 0,3%.
Ou seja, caso a economia não apresente nenhum crescimento real, o PIB ao final do ano registrará alta de 0,3% devido a fatores puramente estatísticos. Curiosamente, essa é exatamente a expectativa de crescimento do PIB presente no boletim Focus, do Banco Central, o que denota que o mercado financeiro prevê estagnação da atividade neste ano.
Tal comportamento pode ser explicado por um conjunto amplo de fatores, onde se destacam as recorrentes pressões inflacionárias, que devem pelo segundo ano consecutivo levar o IPCA a fechar o ano acima do teto da meta, provavelmente próximo a 6%.
Os efeitos inflacionários da guerra entre Rússia e Ucrânia tendem a agravar esse quadro, elevando o preço das commodities, em particular de combustíveis e alimentos. Dessa forma, o BC brasileiro deve prolongar o ciclo de aumento da taxa de juros, que pode fechar o ano acima de 12,5%, inibindo qualquer possibilidade de retomada vigorosa do crescimento.
Para se contrapor a essa tendência estagnacionista, o governo Bolsonaro tem se valido de um conjunto de medidas fiscais e parafiscais, visando combater os efeitos recessivos da política monetária. No entanto, mesmo as medidas já anunciadas não representam um impulso fiscal positivo relevante, apesar de poderem ter algum efeito político no curto prazo.
A nova rodada de estímulos, que inclui nova liberação do FGTS, redução do IPI, novas linhas para renegociação de crédito e eventual redução na tributação sobre combustíveis, pode apresentar algum impacto na inflação e no consumo das famílias, mas é provável que seja incapaz de reverter a trajetória de estagnação econômica prevista para 2022. •