Por Matheus Tancredo Toledo

As mais recentes pesquisas de opinião pública divulgadas pelos institutos apontam para um momento de estabilidade na avaliação do governo, após terem registrado piora na popularidade nos primeiros meses de 2024. Neste artigo, traremos a análise do NOPPE (Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos da Fundação Perseu Abramo) sobre tais levantamentos – com base no acompanhamento constante que fazemos de pesquisas de diferentes institutos.  Os levantamentos, realizados em abril (Febraban/Ipespe) e em maio (CNT/MDA, Atlas e Genial/Quaest) apontam que após a aprovação dos brasileiros sobre o governo ter piorado entre o final do ano passado e os primeiros meses de 2024, alcançando os piores patamares de tais índices desde o início do terceiro governo Lula, houve um ‘estancamento’ dos índices, com quase nenhuma oscilação para cima ou para baixo.

Das quatro pesquisas, duas apresentaram oscilação para baixo na aprovação na ordem de 1 ponto percentual (p.p.), caso da Quaest e Ipespe (chegando a 50% e 49%, respectivamente), enquanto uma apontou oscilação positiva de 3 p.p. (para 50,8%, no levantamento Atlas). Na pesquisa CNT/MDA, a aprovação caiu 4,5 p.p. (para 50,7%, patamar semelhante ao dos demais institutos) – sendo que é a pesquisa com maior intervalo temporal em relação ao seu levantamento anterior, de janeiro. As últimas pesquisas Ipespe e Quaest haviam sido em fevereiro de 2024, enquanto a Atlas havia feito sua pesquisa anterior em março. 

Em relação à reprovação, as oscilações foram na ordem de 1 p.p. a mais na pesquisa Quaest (para 47%), 0.9 p.p. a menos na pesquisa Atlas, 4.1 p.p. a mais na pesquisa CNT/MDA e 1 p.p. a mais na pesquisa Ipespe. Do ponto de vista metodológico, duas das quatro (CNT/MDA e Quaest) foram feitas com entrevistas presenciais, enquanto Atlas (via internet) e Ipespe (via telefone) coletaram as entrevistas por meio de abordagem não-presencial. 

Os dados reforçam a linha de interpretação que o NOPPE tem apresentado no último período para as variações (positivas e negativas) na popularidade do governo neste 1 ano e 5 meses de mandato: a evolução da percepção dos brasileiros e das brasileiras sobre a situação econômica do Brasil estabilizou-se em comparação à tendência verificada em levantamentos anteriores. De acordo com a Quaest, a avaliação de que a economia do Brasil piorou manteve-se em 38%, enquanto a sensação de melhora oscilou de 26% para 27%. No levantamento da Atlas houve um recuo de 8 pontos percentuais na avaliação de que a situação econômica está ‘ruim’ (de 53% para 45%), enquanto a avaliação de que a situação está ‘boa’ subiu de 28% para 32%.

O patamar manteve-se abaixo de momentos anteriores do governo, mas a curva que antes era de queda (no caso da sensação de melhora) e de subida (no inverso), agora é de manutenção. Segundo o levantamento Ipespe, a percepção de inflação sob o preço dos produtos manteve-se alta, mas com oscilação dentro da margem de erro frente à pesquisa anterior (subiu de 67% para 70%, mas a margem de erro é de 3,2 p.p.). Tal dado é reforçado pela Quaest, que demonstra que a percepção de aumento no valor dos alimentos manteve-se em 73% (mais uma vez, patamar alto mas estável após piora paulatina nos 3 levantamentos anteriores). Segundo a CNT/MDA, o grupo de bens e serviços em que há maior percepção de aumento de preços é o de alimentos e bebidas (73%) – 40,5%, segundo o instituto, precisaram reduzir o consumo de bens e produtos em relação ao ano passado.

Neste sentido, o sinal segue amarelo: ainda que tenha havido um estancamento na piora da popularidade do governo, os institutos ainda não mostram de modo sólido uma reversão da avaliação dos brasileiros e brasileiras sobre a economia – especialmente sobre a pressão inflacionária concentrada em alguns grupos alimentares. Se ambos os índices andarem juntos, a produção de bem-estar econômico pode ser um passo importante para impulsionar a popularidade do governo.


[1]  Analista do NOPPE-FPA e doutorando em ciência política pela USP.