Clique no link abaixo e leia o Boletim de Política Econômica do IREE de Janeiro de 2021 completo, produzido pela economista-chefe Juliane Furno e os assistentes de pesquisa Daniel Fogo, Lígia Toneto e Matias Rebello Cardomingo!
Boletim de Política Econômica do IREE – Janeiro de 2021
Confira os principais temas abordados:
Crescimento econômico, setor externo e câmbio
A atividade medida pelo Índice de Atividade Econômica do Banco do Brasil (IBC-Br) surpreendeu no mês de novembro, acumulando uma alta de 0,59%. Ainda que esteja em desaceleração, é maior do que as projeções de mercado. Esse dado diz respeito às altas de 1,2% na produção industrial e 2,6% na prestação de serviços, somado pela queda de 0,1% nas vendas do varejo restrito.
No agregado do ano (janeiro a novembro de 2020), o IBC-Br aponta para um recuo da economia brasileira de 4,63%. No que toca ao PIB per capita, no entanto, o acumulado do ano deve ser 2,3% menor do que o registrado em 2019, apontando que não só o “bolo” não cresce, mas que há mais pessoas disputando a fatia.
O aumento das incertezas nesse período fez com que se iniciasse um movimento de revisão das estimativas mais positivas para o PIB, o que não afetaria somente o 1º trimestre, senão que jogaria a economia brasileira de volta a um ciclo recessivo. Segundo a consultoria Oxford Economics, com a queda em dezembro e a contração em janeiro, a renda das famílias deve cair 17% no primeiro trimestre deste ano, ante o pico registrado no terceiro trimestre do ano passado. A Pesquisa Focus projeta um recuo de 1% neste primeiro trimestre.
Mercado de trabalho, desigualdade e políticas sociais
O mercado de trabalho é o segmento da economia brasileira mais distante do apregoado crescimento em “V”. Embora a taxa de desocupação esteja elevada, o auxílio emergencial evitou que a taxa fosse ainda mais pressionada, e seu fim prematura preocupa os analistas.
O mercado de trabalho é muito menos elástico que outros setores econômicos. Dessa forma, mesmo que a economia cresça em torno de 3% em 2021, não deverá haver geração de vagas o suficiente para absorver a massa de desempregados. A necessidade de restrições à mobilidade em função do aumento no número de casos de infectados pela Covid-19 ainda enseja mais desafios à retomada da ocupação.
Segundo levantamento como base na Pnad Covid e na Pnad contínua, apenas um emprego foi recuperado para cada cinco perdidos na pandemia. Não só a recuperação deve ser mais lenta, como é possível haver aumento no número de desocupados, tanto pelo fim do auxílio emergencial quanto do fim do programa criado para ajudar a conter as demissões.
Política monetária e inflação
Em janeiro ocorreu a 236ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O comitê votou para manter o nível da taxa básica de juros em 2,00% a.a. e apontou que “essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2021 e, principalmente, o de 2022”.
Mais além, o comitê declarou o fim do “forward guidance” que havia adotado em sua 232ª reunião, sobressaltando que esse fato não implica em elevação automática da taxa de juros. Como vimos apontando em publicações anteriores, de fato o cenário inflacionário levanta preocupações, sobretudo no que tange à renda dos estratos mais baixos da população, afetados principalmente pela elevação nos preços dos alimentos. A inflação acumulada de Jan/20 a Dez/20 atingiu sobretudo as faixas de renda muito baixa e baixa.
Política fiscal
O déficit primário do Governo Federal e do Banco Central somados atingiram 10,06% do PIB, a maior marca da história. Apenas no mês de dezembro, a necessidade de financiamento chegou a 6,77% da atividade, apesar desse valor ter sido consideravelmente menor do que aquele atingido em junho, por exemplo, quando bateu impressionantes 32%.
O custo médio da dívida em dezembro voltou a cair, chegando a 8,44% a.a., o menor patamar desde setembro, quando estava em 8,34% ao ano. Já o prazo médio apresentou mais um leve encurtamento, chegando a 3,57 anos, depois de ter atingido 3,66 anos em novembro. Estamos agora no menor nível desde dezembro de 2011.
O encurtamento da dívida tem sido praticado de forma deliberada a fim de baratear seu custo, tendo como efeito colateral o aumento dos compromissos no curto prazo, tal como discutido em nosso Balanço econômico de 2020. Contudo, houve uma mudança relevante na gestão conjunta da dívida pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central visando atenuar a elevação do custo da dívida.
SETORES
Indústria
Com relação aos últimos dados disponíveis sobre o desempenho da indústria, no acumulado de janeiro a novembro, em comparação com o mesmo período de 2019, a produção da indústria geral registrou queda de 5,6%. A indústria de transformação, que registrou queda de 6,0%, foi a principal responsável pela baixa do setor. Destaca-se a base de comparação rebaixada, uma vez que o setor ainda não havia recuperado o patamar de 2014, anterior à crise de 2015-16, e vinha de um ano de queda da produção em 2019 de 1,1%.
Serviços
O setor de serviços é o que enfrenta maior dificuldade em se recuperar do choque da Covid-19, e o início do ano não demonstrou sinais de recuperação mais robusta, ao menos no primeiro trimestre. O mês de janeiro foi marcado por elevadas incertezas e redução das expectativas de retomada, desenhando um cenário de pessimismo e receio de que 2021 seja pior que 2020 para o setor.
Comércio
O comércio começou o ano com arrefecimento das expectativas altas que vinham do final de 2020. Embora o setor, diferentemente dos serviços, já tenha retomado o volume de atividades – na comparação livre de efeitos sazonais – anterior ao choque da Covid-19, não conseguiu recuperar as perdas e de janeiro a novembro acumulava queda de 1,9% com relação ao mesmo período do ano anterior. Nos últimos meses do ano, o ritmo de expansão já havia diminuído.
Agropecuária
A agropecuária foi o único setor que apresentou alta na média do ano em 2020 em comparação com 2019, impedindo queda mais acentuada da atividade. O IPEA projeta que o PIB agro tenha crescido 1,5% no ano que se encerrou. Além disso, o setor começa o ano com grandes expectativas, de que após o crescimento do ano passado venha um novo ano de crescimento, estimado também pelo IPEA em 1,2%. O IBGE projeta expansão de 2,5% da safra, atingindo novo recorde após expansão de 5,2% em 2020. O crescimento do setor foi favorecido pela alta dos preços das commodities, que foi reforçado pela alta do dólar. Por mais que os preços possam não apresentar novas altas na margem – ao menos não tão expressivas – em 2021, a perspectiva é que se mantenham em patamares elevados, impulsionando o crescimento do setor.
Por Juliane Furno, publicado originalmente em IREE.